18.5.11

Uma flor

  Para Cassia

Vem de longe tua voz me tocando os ouvidos, vem de além do sul. Já é noite e tua imagem me traz um mundo de outras imagens, se somando aos cheiros e ao esbarrar sutil das costas de tuas mãos. Um sorriso aberto, sem exagero, sem ser pouco. Teus olhos também sorrindo, cor fugidia, camaleão brilhante. Passas sob a sombra das copas, tens pressa, as horas são poucas, poucas para ti e há tanto a fazer, tantos são os lugares , as pessoas, outras paisagens, pequenas diferenças. Outros mares, outras janelas sobre velhas calçadas, iluminadas por uma mesma lua. É verão, amanhece, e te encantam as tantas possibilidades, o olhar para um outro lado, o caminho até então não percebido, e te esquece das horas certas. Como resistir a grama verde, ao céu azul, ao mar tão calmo? Mas te chamam, já é hora, mais uma vez desconfia dos ponteiros , nunca confiaste neles. O tempo não se conta, os relógios mentem. Pequenos brincos, tuas costas nuas , o olhar atento e tuas mãos a dobrar pequenos papéis. As luzes ainda acesas, e dormes feito criança. Tens o meu beijo enternecido. É outro dia. Os olhos que se abrem assustados, naquele instante em que redescobres o mundo, o sem-chão dos primeiros segundos do despertar. E sem saber me entregas o maior dos presentes, o primeiro sorriso da manhã. Há uma casa ensolarada de portas abertas, que dou o nome de Teu grande coração, e se expande em todas as direções, morada que se move, cheia de afetos, de flores de bom cheiro, de brisas que rejuvenescem. E chega o fim da tarde. A dúvida entre qual sandália calçar, se azul ou amarelo, qual prato pedir... Adentramos outra noite, de mãos dadas, te trago pra mais perto, envolta num abraço. Então me calo, e em silêncio percebo que tudo está onde deveria.