Brasília, 19 horas
agarrada às asas do boing
de gravatas grita: - Fica!
Côncava, plana,
central, estranha, via deserta.
Brasília é a Barra da Tijuca à noite,
embora não saiba.
Brasília desdentada de ônibus-trem-elétrico
voltando.
Brasília é moderna,
embora não caiba nela mesma.
Embora não saiba,
é luz de abajour intelecto
janela sóbria em pequenos prédios - púlpitos suicidas.
É astrofóbica, filosófica...
- É coisa-e-tal, saca?
Brasília é mais cedo,
bala de festa.
Mais-tarde deixa Brasília tonta;
gira Brasília sem braços.
E Brasília têm filhos
e pais separados.
Aguarda adoção.
Brasília ambidestra.
Fala alemão, engole facas.
Agarrada aos fios, é uma criança pedindo colo.
Brasília tem nome,
ora não tem.
O céu quer Brasília mais alta,
chama por ela, que
nem da janela pisca.
Brasília é uma curva desfeita.
Brasília é alcoólatra, posta por conveniência.
É uma prancha e dois pratos.
Brasília é ela.
Que vai embora e chega,
retorna do inferno pro inferno.
Pra outra Brasília
que nunca pisei.
Distinta dela mesma,
de seus detritos.
Brasília que nunca estive,
e já nem sinto o quanto a amo.
Brasília ruiva, hippie e bela.
Agora,
Brasília inteira
é uma curva.
(2007)
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