Vê, aqueles sapatos.
Uma montanha deles, não mágica, mas olímpica.
Quase todos eles, por ir e voltar, nem sempre, meus passos.
Quase todos muito mais que sapatos
– menos, agora rotos – foram pontes e portões para tanto rojão
Para tanta risada e cadeados
Para tanto cárcere quanto pode caber nos meus pés.
Vê, que piada engraçada,
Amontoados parecendo pequenos animaizinhos esgotados .
Emaciados passam o tempo repetindo as mesmas coisas
Uns para os outros.
E nem sabem mais o que disso tudo aconteceu ou foi inventado.
A diferença já não cabe.
Que trágico.
São sapatos
Parecem pessoas.
_vinicius perenha – 20 de julho de 2010.
2 comentários:
O poema segue na trilha de tua última postagem aqui no blog no que diz respeito a uma sugestão dada pela observação de algo, um olhar que se deita sobre uma imagem e toma outros rumos.
As solas se gastam com tantos caminhos percorridos e essas solas gastas são nossas histórias contadas e reinventadas.
"a diferença já não cabe"
É meu camarada já são muitos os pares a conversar e muitos outros ainda a serem calçados e a eles juntam-se as mochilas, diversas, que ajudaram a carregar muita coisa por essas caminhadas de passos incontáveis.
grande poema.
Grande poema, uma narração muito ilustrativa com um conteúdo de teor muito humano e bem explorado. E quando digo "humano" segue compreendido, no âmbito do poema, o trágico e beleza inerentes a essa condição.
Muito boa leitura !
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