Fui uma criança sem muito interesse
por música, acho que o modesto acervo de discos dos meus pais
também não contribuiu muito. Lembro de alguns desses discos;
trilhas sonoras de novelas da rede globo, coletâneas internacionais de
músicas românticas, Lps do José Augusto (que era o ídolo da minha
mãe na sua juventude), alguns discos de sambas-enredos e outros do Tim
Maia e Roberto Carlos, e estes dois são a herança musical
que ficou. O gosto pelo Tim Maia só fez crescer de uns tempos pra
cá, graças a era do download que me possibilitou entrar em contato
com sua produção dos anos 70. Os Lps do meu pai eram da fase
brega-romântica do Tim Maia (anos 80), toda vez que ele tomava umas a mais
colocava esses discos no máximo e cantava junto os poucos versos que
sabia, e para um moleque de uns sete anos não era a música mais
interessante pra se ouvir.
A audição mais atenta dos discos
do Roberto Carlos se deu por volta dos 17 ou 18 anos, peguei os
vinis que tinha em casa e coloquei no toca-discos procurando as
músicas mais interessantes, fiz tudo isso depois de me certificar
que não tinha ninguém por perto, naquela época ninguém poderia
saber que eu andava ouvindo Roberto Carlos. Isso era imperdoável
prum jovem rebelde, fã de Iggy Pop, Bob Dylan, The Clash e Neil
Young. Até a primeira metade dos anos 70
Roberto Carlos produziu muita coisa boa, depois infelizmente acabou
virando uma espécie de Julio Iglesias brasileiro, abandonou seu
visual cigano-hippie, com seus cordões, jaquetas e cachimbos e
resolveu cantar pras gordinhas, baixinhas, míopes e nossa
senhora, e há décadas só faz lançar os mesmos discos e especiais
de fim de ano pra cumprir contratos.
Mas Roberto Carlos e Tim Maia não me
despertaram interesse na infância, foram descobertas
posteriores. Lembro da primeira música que prendeu minha atenção
quando criança. Estava tocando no 3 em 1 prateado da marca aiko que
tínhamos em casa, era uma tarde na Ilha do Governador na década de
80, fiquei ali prestando atenção naquela melodia e na história que
a letra contava. Fiquei esperando a música terminar com
papel e caneta nas mãos e assim que o locutor anunciou de quem era
aquela canção anotei no papel; Eduardo e Mônica da Legião Urbana. Então era essa a tal banda que o Geovane tanto falava.
Geovane era um amigo do primário que dizia pra todos que sua banda
preferida era a Legião Urbana, acho que todo moleque nos anos 80
que tivesse um irmão mais velho devia gostar da Legião, o
Geovane tinha um irmão mais velho que curtia a banda, como eu não
tinha irmãos e nem o hábito de ouvir rádio demorei um pouco
pra conhecê-los. Ainda levei algum tempo pra entrar em contato com
os álbuns da banda, foi por volta do 14 anos quando comprei no
camelô umas fitinhas k-7 piratas, numa dessas promoções de três
por não sei quanto, foram duas fitas da Legião e uma do Raul, e
essa foi a minha iniciação no rock. Legião Urbana e Raul Seixas
foram as portas de entrada. Neste mesmo ano, 1995, comprei meus
primeiros Lps; Planet Hemp, Raimundos, Pearl Jam e Nirvana, o típico
rock and roll de ouvinte da rádio cidade.
Depois, aos 15 anos, descobri o Trash Metal, Punk
aos 16, Folk aos 17, aos 19 formei uma banda com os amigos Rafael
Elfe e Odilon Soares que durou apenas seis meses (a minha falta de ritmo pra tocar bateria foi uma das razões pra curta vida da banda) . E daí pra frente o moleque que
durante a infância não se interessava por música se tornou um
aficionado, consumidor compulsivo, que baixa mais
músicas do que pode ouvir, que gastou durante muito tempo o
dinheiro que tinha e o que não tinha comprando discos, e até
hoje não consegue passar por um vendedor de vinis sem parar pra dar
uma olhada.
Também não lembro qual foi o
último dia que passei sem ouvir música.
------
------
Nenhum comentário:
Postar um comentário