Finalmente se lhe afigurava a áurea oportunidade pela qual tanto aguardara. A efêmera e raríssima presa de seus sonhos. Atravessara seu caminho tal qual um desfile cívico, uma procissão de almas. O desastre natural mais belo e assustador de sua não pouca experiência de observador atento.
Diante da pueril sensação de regresso às indóceis paixões de sua juventude, ele, um impulsivo e possante Mangalarga, pela primeira vez, hesitou. E enquanto hesitava, não dormiu, bebeu ou jogou. Seu espírito fora completamente subjugado pelo embrião do caçador que surgia, impaciente, dolorosa e silenciosamente.
E sob os auspícios imperiosos dessa gestação, crescia, então, um soldado. Meticuloso e hábil nas sutilezas e manhas da mesa onde, então, dispusera todas as suas fichas.
...
Eis que Tibério, implacável, se acerca de Úrsula e corajosamente balbucia seu ultimato:
DEVORA-ME OU TE DECIFRO.
Ela, felina, furtivamente diz sim e deixa que o vento leve os alçapões que não foram usados.
2 comentários:
Esse é dos meus! Fenomenal esse texto... curto, direto, certeiro. Angustiante na medida exata.
"devora-me ou te decifro", a inversão da sentença não é a única sabotagem do velho pulha ...
me lembrou bem mesmo os textos da renata, uma pequena flecha.
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