“A s s i m c o m o n ó s”
Eu fui aquele sujeito,
sem jeito
que um dia deixou
de encantos cair
e por ti
num conto
permaneceu fadado.
Aquele que cruzou a rua, num mar de gente
e esbarrou teu ombro, e nem sabia o que diria
e você a pensar na família
dentro de outros problemas
Fui aquele sujeito perdido
numa noite apática
num sinal vermelho
a lhe pedir informação
e bêbada, ao som da época
trouxe-me a metafísica do teu frio olhar de soslaio
E eu, o olhar vazio que te segui à fio
nas Áfricas nebulosas de tua mente
e reverdeceu o pasto colorindo as vias
enxergando a primavera febril de teus lábios
as alfazemas
que brilharam no ardor
que borbulhara ao sol de julho.
Fomos aqueles desconhecidos que se conheceram
num sábado de aleluia
pagãos órfãos de pai
a nova contra-cultura do país
os comunas anti-horários
os novos olhares pseudo-aristocráticos
éramos sós naquela manhã
uma pulga de ouro na avalanche da vida.
Fomos aqueles que desmudaram o destino
o mesmo que nos uniu e nos separou
pelas forças estranhas da paixão coletiva
da rudimentar forma de se pedir, num adeus que seja
e levantar as mãos orando pela compaixão de cristo
nas suas lavandas brancas e seus riachos de lágrimas e sangue.
Onde por horas estivemos?
Quando a bastilha caíu, quando berlim se separou
quando as torres gêmeas desfiguraram um dia inteiro
Onde por horas estivemos?
Quando o cão suicida do vizinho
mordeu o baço do velho
e caídos, ambos, gritaram de uma forma cômica
e tiveram as línguas adormecidas pela ambulância.
Onde por horas estivemos?
Quando harley cruzara o zênite, 67 anos depois
quando as janelas finitas dos subúrbios
de um ponto ao outro fez estrados azuis dobrarem-se
e deixaram os olhos maculados pela vida inteira.
Onde foi que nos deixamos?
naquele relógio amaldiçoado?
sempre 35 minutos para às uma de algum tempo
enfeitiçado, congênito, dentro de todas as formas da casa
descrevendo a nossa doce e amarga despedida.
Onde foi que nos deixamos?
naqueles beijos intermináveis
no final do banco dos coletivos irrisórios
cheios de estrelas nos cabelos
e canelas de areia e mar de ipanemas noturnas?
Onde foi que nos perdemos?
a avenida brasil está parada agora
e nos aguarda àquela tarde
quando o sol castigáva-nos
e entorpecia-nos de amor eterno
como se a eternidade fosse séria
ou qualquer tábua de nietzsche no jornal alemão
Onde foi que nos deixamos?
lembra?
quais fotografias foram reais?
quais as imagens mais cruéis agora?
onde fomos deixar as alegrias
que nos permeavam de dias sem indultos
de horas sem pêndulos de flores em nossas capelas
Quais refeições? Quais talheres destrincharam
o que as bocas adorariam dizer
e engoliram apenas
ou mastigaram todo o infinito rude dos nossos mudos olhos
quais copos de vinho nos cederam a verdade
pra quando deitamos lesos de algum pedido
e deixamos o corpo responder aos instintos
ou tão somente dormir, aquecido um pelo outro.
Quantos dias?
Quantas horas contadas?
Nada, diria...
nada mais do que a máquina fria da vida
nada mais do que a voz indizível do tempo
Fomos e seremos ainda, muitos outros
e nunca deixaremos de ser o que somos
e o que fomos será sempre o que deixamos de ser
quando o que somos será sempre um passo atrás
do que desejaríamos
e esta réstia de seres está à perambular em nossos espaços
e deixar pegadas fundas nas praias espirituais
e nada, diria novamente
nada poderia ser tão mágico e simples.
2 comentários:
caraleo, brodinho ...
que tiro. uma verdadeira avalanche de muitos sentimentos, sensações e aqueles pensamentos escondidos que tantas vezes não permitimos aflorar mais, porque sabemos que se o fizessem trariam guarda-chuvas amargos goela abaixo...
sensações belas também, coloridas; mas me chamou mais atenção aqueles pequenos temas que nem chegamos a pensar como temas, não deixamos, são difíceis pra nós, tantas vezes. fodão.
É... Incrível capacidade de mostrar o que por vezes insistimos em calar...
Árido e ainda assim com alguma doçura... O que não impede de perceber também uma certa "amargura"...
Não mais do que é.
Bom, muito bom...
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