7.12.07

O nojo

E quando me canso
da enciclopédia de cumprimentos,
das rotinas estabelecidas,
niponicamente seguidas,
os hábitos que eu mesmo fiz

quando o caminho não mais é feito
de tijolos de ouro
e me deixo conformado
amargamente deitado
sob o sol de protocolos
onde, estático, me doiro

quando o bom-dia é peso-morto
lançado à revelia
nos peitos já sem resposta
dos pálidos colegas,
oitàscinco trajetórias
em escritórios glaciais

quando o cianureto não se faz
em cavalar tiro solucionático
mas de peça em cartaz,
pra todo sempre em cartaz,
em doses homeopáticas

e o orgasmo convulsivo,
outrora redentor,
passa sorrateiramente a ser
um mais-ou-menos prazer

aí então é fechado um ciclo,
o ciclo do nojo,
e ai de mim, irmãos,
não percebê-lo,
não acontecê-lo para, enfim,
renascer da abjeta lama,
o afiado mosqueteiro
trovador-fênix do eu a mim;

na esquerda o verbo,
na direita o rojão,
insolúvel como um anti
que se faz em paraíso
de mudança e levante.


(Isaac Frederico, aos 07 de dezembro de 2007)

3 comentários:

Guto Leite disse...

Sempre aquela força aguda, poeta, aliada a versos poderosos e argutos! Vale sempre minhas paragens pelo Presença!

william disse...

Um tiro certeiro,já entra na galeria dos melhores do marujo.Um poema que desce arranhando a garganta, duro na semântica e delicado em seu fazer,um certo desconforto , como uma ressaca após uma noite turbulenta.E que nos armemos de muitos rojões e palavras contra o entediante mais-ou-menos.

Anônimo disse...

Exatamente isso, excelente!!!
QUE DESÂNIMO!!!
E cura-se ao som dos pássaros e o barulho das águas dos rios...
Muito bom camarada!!!
Rojão nos peitos deles!!!
Abraço!!!