Aprendo a ser melhor
que a cabra
que a ferramenta na caixa
que o dobre d´água.
Sendo pior que eles,
não sendo nada.
Aprendo a reconhecer o mau
nas aranhas que me esquecem
nas pessoas-porta-retratos que os suportam
os porta-retratos, sendo pessoas.
O mau que urge nas silenciosas caras
que aflige famílias, doenças graves
Aprendo sendo melhor que ele - o mau,
existindo como pessoa
despregada de paredes.
Aprendo a ser mais forte
que o sino
que o mar na manhã trêmula
que a faca sobre o dedo da velha
sobre o peso das costas
que a corda bamba de mendigos
muro de alcançar baixios.
Aprendo a ser mais
sendo menos,
tênue fio que se estanca.
Aprendo a resolver o meu medo
no escuro
mergulhado num mar de cinzas sonoras
tubarões e sacis me perseguem
agonizando entre terreiros de macumba
capas negras e vermelhas sob a fumaça dos caximbos
a orca, o vizinho queimado vivo, o desenterro do amigo
olhos mortos na pele que devora o riso.
Aprendo a ter coragem
não tendo, deixando que o monstro me alcance
tornando-me algum tipo de monstro.
Aprendo meu delírio
vivendo-o
no duro concreto da mais absurda realidade
meu mastro fundo, falo!
no ácido que me toma
estrelas-irmãs
telefonemas solitários
tudo pra um dia que não existe
Aprendo a delirar delirando
rasgando o que me parece ter algum resto de delírio.
2 comentários:
elfe, meu irmão !
como é bom lê-lo, mesmo sumido sempre aparece com material de nível excelente;
permita-me externar o quanto acho que tua poesia melhorou, dos tempos da mais ferrenha lisergia em versos ao que agora vem como um passeio, um andar físico e mental, com imagens fortes e belas que tens construído.
abraços !
Aprendendo com Manuel de Barros, João Cabral, Ungaretti...
A lisergia é boa pra tirar os pés do chão.
Mas a palavra precisa ser precisa, exata, pra não nebular a imagem de dentro.
Valeu irmão!
Elfe
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