Na pedra um corte
veio aberto a dinamite
vaga -lumes tateiam as folhas
e os postes põem suas lâmpadas pra dormir.
A serra desce sobre o mar.
O vento venta na contramão dos meus olhos.
Não há fala.
Não há gente.
Tenho dois pés
que me levam por um caminho em que nunca passei.
Um cão me late hostil
adiante outro me abana o rabo.
Sobre o asfalto um caracol lança-se à sorte
se for seu dia chegará ao outro lado.
A noite não tem hora
não tem ponteiros.
A pedra transpira.
Há um breve momento
onde o corpo se desfaz
instante em que desato de mim.
Sou uma ave sobre um mourão
uma assombração aos olhos do passante
diante de um rochedo e de um mar que se move.
Amanhã
ao nascer do sol
não haverá o que há.
Será uma outra baía
um outro eu.
.
Tudo fica aqui
e passa
.
e passará.
.
Outubro de 2009
3 comentários:
a forma - a falta de, na verdade - do poema não só sugere, mas se encaixa perfeitamente na liberdade de uma caminhada em terreno desconhecido. Não à toa a coisa toda se encontra, ao fim e de modo simpático, com o poderoso devir.
acho que essa tua capacidade incrível de permanecer isento ao cinismo é o tom mais afinado mesmo. Prum sujeito desonesto como eu, chega a dar nos nervos.
Cristalino!
Sempre chego a mesma conclusão...
"Amanhã
ao nascer do sol
não haverá o que há."
Lindo Will!
"permanecer isento ao cinismo", achei interessante esse comentário do vinícius - tanto pela luz que joga sobre sua visão do poema quanto sobre seu próprio processo de composição !
o poema vem naquele ritmo descritivo (não-cínico, pois que não julga, mas descreve).
tem um ar sensacional de uma espécie de fenomenologia de castañeda. !
os tempos em mangaratiba renderam frutos óbvios além dos restauradores !
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