Quero
que tenhas um vento sujo
A
entrar por tuas janelas
Varrendo,
fétido, teus papéis e máscaras.
Quero
que em teu pomar cresçam larvas
Maiores
que maçãs
E
que tenhas fome e as devore
E
que limpe os cantos dos lábios, imundos
Com
lenço alvo de agradável perfume.
Quero
que sangres o bastante
Pelo
nariz, prefiro
Diante
dos teus mais audazes juízes
Diante
dos teus santos patrões
E
sob o olhar enojado das crianças.
Sim,
quero que sintas a estocada
Quando
estiver distraído
Quero
que tua tosse possa doer por meses
Quero
que teus amigos sejam cruéis
E
que teus dentes apodreçam, mas permaneçam, impuros
Na
boca que irá buscar, sublime, o amor.
Só
assim a alegria e o júbilo
Te
sorrirão quando a ti derem as migalhas com que nos contentamos
Nós,
de tão pura alma e tão escasso saber.
Aproveite
o dia, irmão
Mastigue
as agradáveis pedras que te forem dadas
A
virtude não virá sob o doce aspecto da satisfação
Mas
sob o áspero jugo humano
Da
fome.
Vinicius Perenha, do Livreto Torres Homem, 278.
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