Não lamentes, oh
Nise, o teu estado:
Puta tem sido
muita gente boa;
Putíssimas
fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes
putas têm reinado:
Dido foi puta, e
puta dum soldado;
Cleópatra por
puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com
toda a tua proa,
O teu cono não
passa por honrado:
Essa da Rússia
imperatriz famosa,
Que ainda há
pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras
expirou vaidosa:
Todas no mundo dão
a sua greta:
Não fique, pois,
oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo
e honra é tudo peta.
Manuel Maria
Barbosa du Bocage
(1765-1805)
Do Livro Poesias Pornográficas, Presença & Editora Cozinha Experimental, 2012.
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