Tive a oportunidade de conhecer o Afonso Nives em um encontro internacional de poetas, em Orão. Egresso da intelectualidade branca da África do Sul, o poeta de 52 anos embarcou faz muito numa onda peristáltica de agressão inapelável e franca aos seus fantasmas.
Tendo visto holocaustos ao longo do apartheid sul-africano, Afonso Nives teve a peculiar reação de usar a poesia para agredir, tentar mutilar indelevelmente os "monstros insensíveis" da insensatez humana.
A agressão traz agressão, e assim navega o barco anti-poético do velho pirata - batendo e apanhando num mar casca-grossa de rebeldia senil.
Um caminho controverso, mas muito autêntico, conforme nos atesta a poesia "A moeda do ser".
A moeda do ser
O crápula ajeita o fraque
E sorri o maior escárnio de que é capaz:
Somos nós !
… somos todos pulhas
Tripudiando do inimigo caído
Ou sendo por ele trucidado,
Dependendo do momento.
Somos todos afeto
E infâmia
Ao mesmo tempo – e vê:
Os dois lados
Da moeda do ser.
13.10.06
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