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Portão de Madeira
As borboletas pairavam no peito,
roçando as asas na quina do meu coração.
As bonecas de louça tinham o corpo de pano.
E os homens de fogo tentavam nos ensinar a nadar.
Até pareciam espertos,
mas era a praia dos bobos.
Onde pela primeira vez vislumbrei a brancura do teu seio.
pois não havia em minha rua,
menino que não recebesse os seus carinhos.
Um dia lhe fiz um poema tão bonito que nem consegui entregar,
é que o reli tantas vezes que o papel esfarelou.
Então resolvi escrever um poema sem papel e sem palavras.
Juntei um bocado de sorrisos e acerolas, e pus em sua janela,
ela gostou tanto que me prometeu fidelidade.
Eu quase aceitei, mas pensei bem,
pensei no Pedro, no Marcelo, no Canela...
E disse a ela:
– É melhor não, felicidade só minha?
Tinha que ser também dos meus irmãos.
E assim seguimos todos nós, felizes e cúmplices.
Havia partido sem deixar aviso
E aquela tarde pareceu sensibilizar-se com a nossa dor.
Fez silêncio.
Não houve pássaro que cantasse
E sequer uma árvore ventou.
2 comentários:
o "sem persona" é sem dúvida uma das melhores coisas que li nos últimos meses.
não estou como ele à mão para citar demais poemas que me chamaram atenção (a exceção é o intrigante "o marinheiro sem convés", que fixei, não sei por quê) mas o libreto inteiro vem recheado de cenários nebulosos e fascinantes, sutis em seu modus operandi e intensos em poder de sugestão.
Que coisa mais linda....
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