9.3.09

O que é do tempo, ao tempo torna.

Vejo teus dentes. Competem
com tua boca. Repetem
o mesmo riso afável e amarelo
da pequena foto.
Grafada em cores um tanto velhas.
É você lá.
Quer dizer, tu fostes aquela menina loura.
Tinha uma praia amanhecendo nos olhos,
cercada pelo quarto que já não existe mais,
pelo menos não ali, agora.
Porque tudo se foi,
tragado, devorado por abelhas e mosquitos sazonais.

E no que não és mais,
apaga-se outra noite.

O amarelo fugiu dos teus cabelos.
Não é pra menos,
a vitória é ainda estar por aqui.
E algumas coisas vão se enrolando nos fios.
Também perdi o pequeno e solitário Rafael.
Nada que o traga, a não ser essas lembranças fracas.



A chaleira nos chama pro hoje.
Ferve a água posta.
Vamos à cozinha, enquanto te rodeio
ouço teu riso viver comigo o agora.
E estalamos juntos algumas costelas de março de dois mil e nove.

Ficou no quarto a pequena foto com você lá dentro,
sobre o livro, sobre a cama - sob a luz.
Sobre teu ombro, o mesmo pedaço de lustre não resistiu.
Nem você!
Loura num carnaval, sorrindo outra vez pra quem quer que seja,
que naquela noite, dia, ou tarde,
pediu-lhe uma pose,
e posou também com a máquina fotográfica entre as mãos.

Sobreviver é acompanhar.

Deixemos que tudo torne, se é pra ser.
Sem que saibamos, claro - mas não sabemos.
Tomemos o chá, que já esfria.
Uma coisa eu sei, ou pelo menos imagino que eu saiba:
somos apenas o que fomos.

2 comentários:

Isaac Frederico disse...

ducaráleo, de vez em quando o elfe surge com essas pedradas, graças à providência.
um clima nostálgico mas muito interativo com o leitor, achei.
abraços, negão.

R. Elfe disse...

O que uma foto não faz com a gente?
O ver é completamente criador.
Tudo é de todo mundo!
Quem vê tem, mesmo que por alguns pequenos espaços nesse turbilhão espaço-tempo.