15.9.06

Rafael "Grego" Huguenin

As poucas poesias que conheço do Grego possuem características estruturalmente refinadas e muito bem trabalhadas, destoando do processo de composição usual dos "poetas de rua" universitários, por assim dizer - e nada mais natural, em não vestindo o Grego as peculiaridades destes.
De uma pungência aflitiva, o soneto decassílabo "Sentado à beira mágoa os montes vejo" representa bem o que quero dizer. Incisivo em sua expressão, o poema incute-me curiosidade em conhecer as demais composições do autor.

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Sentado à beira mágoa os montes vejo,
órgãos afiados que projetam cumes
e em cujos escarpados, feros gumes
encontro a mesma corda que ora arpejo.

Facas, espadas, dardos que dardejo
contra o céu que se fecha em mil negrumes
não bastam pra calar os pesadumes
que o coração me cortam, e assim doidejo.

As armas contra a dor de nada ajudam,
a cada golpe rudes se desnudam
diversos braços novos que não venço.

E só me restam lágrimas salgadas:
com sentimento tanto assim choradas
me lavam ao menos o meu rosto tenso.

(Rafael Huguenin)

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