Feroz é o galo,
advento crucial da manhã.
Cruza de noite e luz.
Feroz todo mundo
dentro do mundo, feroz.
No bonde, no escuro às 6,
na padaria abrindo.
No raiar do poste elétrico, torturando o mendigo.
A primavera sonâmbula,
canhões crivados de sol.
O sideral volume espacial da aurora.
E teu cadarço frouxo, roxo,
amarrando tudo.
Feroz tua boca,
mordendo o ócio, travando o ofício.
Tua ferida cobrindo a falta.
O frio sem o lençol pra matar.
Feroz tua fuga desembestada,
tua verruga na cútis prata,
paupérrima tez mulata.
Feroz é a tv, cintilando na sala sem ninguém.
Teu pai morrendo no quarto.
Tua vó desenterrada.
Tua pá de ossos coloridos.
Teu filho viado.
Tua pasta de fígado de ganso.
Feroz é o pasto, roendo a terra.
A Terra tragando o pasto;
pastor comendo ovelha - prova óris do sistema.
Feroz é a tela, janela vomitando margem,
esconde-esconde à tarde.
Feroz é o galo,
rasgando a manhã.
Fantasmagórico trem amarelo,
fulgente,
advento crucial
do poema.
5 comentários:
grande Elfe, a caneta continua firme, entre os dentes e, pra variar, nada de embreagem, neles.
abraço!
Depois do puxão de orelhas o rapaz resolveu dar as caras novamente.
A ferocidade do canto do galo, um despertar num atropelo poético,um amanhecer aguerrido pro apito da fábrica, marmita na mochila e vamos lá.
Nesse papo de marmita da mochila eu tô escolado.
Caros, Rafa, que poemão. Gostei muito e deve ter ajudado o fato de ter lido em voz alta, talvez, infelizmente os poemas sirvam mesmo pra isso, pra ser sinfonia. E danem-se os sentimentos.
Lindo, maluco, lindo.
Sério
Puxa! que bom isso!
Parabéns, Elfe!
abç, f
elfo, putamerda, que tiro, rapaz.
sem dúvida um dos melhores poemas teus que já li - olhaí guto, eis aí uma das utilidades da poesia! fogo no milharal !
Postar um comentário