Segue a parte final da reflexão épica "Recortes do tempo", do livreto homônimo de André Bentes. Cópias do livreto podem ser adquiridas mediante contato com o Presença.
Cerveja gelada e poesia de calçada !
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Eu que aprendi com o passar da idade
que os acontecimentos reduzem-se a isso
Aquilo que eu vejo e o que quiser que eu sinta
Confesso cabisbaixo que não mais desejo
Sou cúmplice da vida ao dobrar esquinas
E sento nesse banco já extasiado
Reduzo um universo a mistério e química
E eis que o processo está encadeado
O que já foi sagrado agora se trafica
Os pajés pós-modernos até que cobram caro
O aroma da floresta cabe a quem respira
Em volta, espantado, sou tudo que vejo
Reflito-me na sombra de uma prostituta
Sou parte do processo e só me apercebo
Ao ver que a sua porta ainda esconde a rua
Um ato de coragem se tornou sorrir
Revoluciono o mundo pelas gargalhadas
Que dão-me o poder de criar imagens
algumas são sentidas, outras inventadas
Mas sinto certa pena dos que ainda esperam
Ao ansiar à morte que lhes traga vida
Espero estar bem morto quando enterrado
Sendo desnecessário uma despedida
O homem pensa por fazer história
É graças à memória que há o antigo
Sendo graças ao tempo necessário o mito
Deixando impressionado o que ainda é vivo.
(André Bentes, do livreto "Recortes do tempo")
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