14.7.08

Degelo

Fotomontagem, 2005.

Que te abraço em devaneio e oscilação. Te elegi a musa dessas noites de cera quente sobre as pálpebras. Quanto durará? Tantas já se foram e não deixaram falta. Um dia, uma semana, mas enquanto permaneceram foram únicas. Agora é você, nos olhos, na memória. E solto pequenos cortejos e sonho e lanço ao longe, pra onde se faça mais difícil o alcance. Admirando sem tocar. E não há nisso inocência ou medo. E nado no mar do provável, do que poderia ser. E com tuas mãos me acaricia os cabelos. E brinco, e tento novamente como quem procura salvação mas tão logo a consiga, abdica.
É um querer indisposto, um sonhar desperto. E te levo comigo em noites de suor e te presenteio com flores de desculpas. No império devastado é a única estátua que ainda resiste.
E fico com os olhos postos em ti na indecisão de abraçá-la ou quebrá-la definitivamente.


Setembro de 2006.

3 comentários:

Rachel Souza disse...

Lindo! Nadar no mar do provável, do "Se fosse, teria sido." É desgastante não?! Ó, quebra sem dó!

Vinicius disse...

Gostei Wille, mesmo. Real no osso, sem bordados inúteis. Bonito no insight e na escolha das imagens. Só fiquei na dúvida sobre o formato "texto".

E quem chamar de prosa eu mato.

Isaac Frederico disse...

heheheh podescrer
po acho que eu já tinho lido esse .. é muito envolvente.
também acho que renderia mais em outro formato mas independente dessa escolha o texto é rico.