Hoje, embora o contato seja sempre de tempos em tempos, distante quase sempre, creio que está ocupado com outras tentativas e preocupações. Recebi recentemente seu novo livreto, Recortes do Tempo, do qual o poema a seguir foi retirado.
A poesia do André, ainda que para quem conhece outros trabalhos mais antigos seja claro o amadurecimento de alguns temas recorrentes, me parece sempre orientada por novas descobertas pessoais e cravada de reflexões filosóficas, geralmente angustiantes e evidentemente experimentadas na pele, pelo autor, o que por si só já legitima o espaço ocupado e a força dos seus escritos.
grande abraço André!
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Fenômeno
E como vapores d’água que o corpo expulsa
Exilam-se no véu oculto de um sentido
Que explode em sensação, como a alma busca
O dedo já se move por vontade própria
A língua é enrolada dentro da garganta
No peito a redundância de amor e ódio
Os músculos que estendem também se contraem
O cérebro da casa fica lá no sótão
E os sonhos são amantes que não se encontraram
O olho lacrimeja sem ter um motivo
O pescoço se traduz como um arrepio
E o tato todo gira como uma mandala
Aberto o apetite, sabor e aroma
vermelho traz a fome, fome traz a dança
a sede nos caninos é só um sintoma
E as unhas são a águia sobre o meu pescoço
A alma está segura pelas minhas coxas
Some o pensamento sem nenhum esforço
Procuro a tua boca, olhos já cerrados
Sou o universo inteiro dentro de uma flecha
Outrora eras meu alvo...agora és meu arco.
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