Agora reparo
Que vejo ao longe
Uns tênis sujos com as minhas pernas
Seguidas de um tronco que é meu,
Os braços longos e um cabelo louco
Que me tapa a cara
A face, o rosto
O que será feito de mim?
Será que me perdi?
Ou ainda não me encontrei
Que pena
Que desgosto
Que perda de tempo
Falta de tacto
Será que vale a pena
Lavar os tênis
E
Limpar o rosto
Acho que não,
É falta de gosto
... Mas se me der na telha
Sou capaz de enlouquecer
E ainda se me lembrar
Sou capaz de me esquecer
E mandar tudo praquele lugar
Depois...
Hum... depois, sou bem capaz também de fugir com você
Para onde o luar nos levar
Para bem longe da angústia,
Sem quês
Nem porquês
... Sem bons dias
... Como estão meus senhores
... Sem concertezas
... E muito obrigado
Assim vamos sair,
Seguimos o luar
Fechamos a porta
Dizemos adeus
Com
Delicadeza
(Milu Petersen, em março de 1982)
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Milu Petersen nasceu em Moçambique na cidade da Beira, em 1956 e hoje é artista plástica residente em Cabo Frio, RJ.
Esboçou alguns versos na década de 80, período de seus vinte e poucos anos, refletindo angústias e incertezas de uma jovem com um filho recém-nascido, em meio ao establishment da sociedade portuguesa dessa época, onde viveu.
Sua poesia alterna expressões da inocência redentora da paixão amorosa, tão viva e importante nos jovens de todas as décadas e séculos, com as sombras das cobranças de uma sociedade pouco aberta aos "idiossincráticos" hábitos dos jovens egressos das então colônias de Portugal.
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