Rafael é um amigo de longas datas, com quem compartilhei muitas afinidades literárias e musicais , além de alguns porres e tardes ao violão, entoando canções punks contra os domingos tediosos de nossas adolescências. Poeta de visões românticas e carregado de imagens simbolistas, caminha junto as palavras de Gullar e aos versos-visões de Rimbaud e Flávio Murrah, influências confessas, que enriquecem seu universo poético sem tirar o mérito de sua poesia, rica e segura pelos anos de constante criação e pelo inegável talento no trato com as palavras.
"Brioso Bocejo"
Geme o aquecedor
A casa, os prédios ao redor
Gemem as cadeiras solitárias na área
No fundo a alma geme junto, assim tão baixinho
E os segundos vão gemendo, passando...
Quem vê?
Enxergam fundo e vão urgindo em passos finos
Geme o cão na cozinha sob a cômoda de mogno
Os pratos gemendo de frio
A sopa na panela nem mais geme, ingerida fora, antes.
No estômago se espraia para do intestino germinar.
Fora da casa gemem as colunas de ar
O vento seco nos muros - pés de pixações
e passamos sem notar... ali grita um nome tremendo:
G E R M E S
facção do amor urbano,
irritavelmente abafado
vão indo atrás das colunas de ar - sulcos de luz
Antenas e sombras de vizinhos que na correria
subvertem a ordem,
e gemem sorrindo nos carros novos
Que inveja faz da glória um caminho?
Enquanto ela gemia, o mundo pairava exangüe
e ainda gemem:
pias,
manhãs brotando,
avenidas de tempo derretendo em relógios,
ali, aqui,
em cada ambulância estacionada - um silêncio,
assim gemia a alma bem no fundo, grosseiramente.
E ela nem percebia que n´um brioso bocejo,
sacolejava o mundo.
"Brioso Bocejo"
Geme o aquecedor
A casa, os prédios ao redor
Gemem as cadeiras solitárias na área
No fundo a alma geme junto, assim tão baixinho
E os segundos vão gemendo, passando...
Quem vê?
Enxergam fundo e vão urgindo em passos finos
Geme o cão na cozinha sob a cômoda de mogno
Os pratos gemendo de frio
A sopa na panela nem mais geme, ingerida fora, antes.
No estômago se espraia para do intestino germinar.
Fora da casa gemem as colunas de ar
O vento seco nos muros - pés de pixações
e passamos sem notar... ali grita um nome tremendo:
G E R M E S
facção do amor urbano,
irritavelmente abafado
vão indo atrás das colunas de ar - sulcos de luz
Antenas e sombras de vizinhos que na correria
subvertem a ordem,
e gemem sorrindo nos carros novos
Que inveja faz da glória um caminho?
Enquanto ela gemia, o mundo pairava exangüe
e ainda gemem:
pias,
manhãs brotando,
avenidas de tempo derretendo em relógios,
ali, aqui,
em cada ambulância estacionada - um silêncio,
assim gemia a alma bem no fundo, grosseiramente.
E ela nem percebia que n´um brioso bocejo,
sacolejava o mundo.
"Primeiro e último haicai"
Quando ela sonha
emudando a noite
varre as estrelas
11 comentários:
tive uma impressão semelhante, uma musicalidade muito ... quase literal.
"os pratos gemendo de frio" é som, além da poesia.
acho que a página do "comments" da poesia da drika travou ... não estou conseguindo abri-la para postar um comentário.
a poesia é indiscutivelmente carregada de beleza, de imagens belas.
achei um pouco pessoal demais, no sentido de conseguir entrar pouco nela, não o quanto gostaria.
O poema fala sobre o mundo dentro do passar silencioso e "gemente" de um bocejo. O silêncio da ambulância gemendo "ocorrer" de algo que gemerá, para sacolejar o próprio silêncio onde ela se aflige. A personagem paira numa hora em que parece uma segunda-feira, lá pras 14 e 30, onde todos, depois do almoço sentem algum tipo de solidão... mas é conveniente ao poeta senti-la. Não há profundidade alguma, e nem alguma força maior para mudar o mundo, ou existencialmente o poema não se refere a nenhum contexto literário, nem semântico, nem nada... simplemente é um quadro sobre um pedaço de tempo. Subjetivo ou não, dá margem a milhares de correntes de cores e sugestões...
Afinal eu nunca escrevi apoiado a nenhum movimento, nem a qualquer regra. Realmente só obedeço o rítimo, mas não o rítimo das palavras, obedeço o rítimo que me explodem as imagens. Esrever sempre foi pra mim algo bastante primitivo, completamente instintivo, onde eu não penso em absolutamente nada... só vejo e sinto. Depois posso dissecar as imagens, e dar conotações que não são as reais, mas é aí que eu vejo a graça da coisa toda. Mesmo que no fim eu esteja rindo sozinho, é uma excelente fuga.
Por que não apreciar a poesia deixando, por um momento, todas as questões que implicam em regras ausentes de uma formulação de opinião? As poesias, com seu lirismo diáfano e envolvente, devem ser lida, talvez somente, com a alma - isso resultaria em um livre-pensamento, ou basicamente o abandono de toda a camada de pensamentos, regras e ditos pré-formulados dentro da literatura.
Ah! Pelo que conheço do R. Elfe ele está longe de ter uma essência Parnasiana exarcebada que o prende à estética, construção e forma. Creio que falamos de um poeta que tem, sobretudo, uma maneira subjetiva de apresentar o mundo sem, com isso, forçar a colocação das palavras. Noto que com ele cada sílaba ganha um poder e uma suavidade inquestionáveis, o que faz de suas poesias não um jogo exato com forma inaplicável, mas construções humanas e, sem dúvida, VERDADEIRAS.
eu entro no coro: hããã??? égua, como assim????
Eita!
É só um "textínculo", ou um só um silencioso bocejo, mas sem brio algum.
corrigindo:
Eita!
É só um "textínculo"... eheheh um silencioso bocejo, no fundo, no fundo, se houver, sem brio algum.
po o poema é bom, eu espero mesmo poder ler mais coisas do rafael aqui.
lindo!
bela estréia!
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