Cheia de funduras
ouro d´escuras aranhas
e o guindaste verde cheirando ouriços-arranha-céus...
ela-lá cheia de tralhas luminosas
fitando a bandeira de cal azul no topo
do armário,
aquele monstro negro que nunca escalei.
Esbarrava em clarões de pintar céus,
espinhos pra fechar feridas
Vasos de para-peitos nus
que o precipício vão de tuas mãos velhas
não trouxeram-na.
- Bença Vó!
Eu nascia lá dentro
pra recuperar o fôlego do café e o pão de outrora.
Fora, era lá fora, a tarde se fazia em pinho - zunia
noutras vezes, meu velho tio zé respirando
fazia barulhos de canoas barbeando sal
e eu que pensei nele tão morto - e realmente estava.
Sua morte havia morrido pra mim,
e percorrera a distância erma
do esquecimento.
Eu que não carrego vagões nos cílios colados
nem roupas largas de quem se foi
vejo minha infância num trem tardio
- apitando vago e cego
ninguém olhando pra trás enxergaria
dentro dela
estão meus pés
menores, sem pêlos
pequenos pés de cortar manhãs
que me vacilam nos olhos as cores sujas - rubras
ninguém olhando pra trás enxergaria
eu diria ao menos, se ouvisse
aquele menino chamando meu nome
e a casa não estaria morta nas mãos da árvore
nem o retrato mudo, respeitando o silêncio
eu crescia...
eu crescia pequeno, como franzindo olhos
pequenas tralhas encolhidas na caixa sobre o armário
aquele velho monstro negro que nunca escalei.
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2 comentários:
"nem o retrato mudo, respeitando o silêncio
eu crescia..."
é fácil ficar aí jogando dardos lisérgicos nos outros, fdp ...
>:
segunda leitura em 13.01.2008 - um puta poema de lembranças, um poema responsável de lembranças.
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