
Alta noite, cena reprisada.
Esta beleza exposta pelo simples prazer de um recuo a qualquer investida.
O espelho nas mãos.
O tédio estampado no rosto (pintado no limite entre o vermelho e o vulgar).
O corpo equilibrando-se na ponta da agulha.
Malvada carne, exposta em quase indecência,
salivando olhares.
Por onde andam os sorrisos que dizem sim?
O aceno de mão graciosa?
Um gesto sem escudo levantado?
Fecho os olhos e sonho com as tahitianas de Gauguin...
Será que alguém ainda se atreve a ir além das luzes da ribalta?
Hein?
André Luis Pontes, diário sem floreios, 1997.