29.3.08

Gracil

caros leitores,
perdoem a acentuacao, eh simplesmente impossivel achar os acentos nos teclados daqui.
abracos a todos !

- - -

Bela como um momento de atencao,
de um arqueiro mirando o alvo
em absoluta concentracao;

Gracil como um trabalho concluido,
a certeza de ter feito o melhor -
um dever cumprido;

Forte como a fe inabalavel
mas leve como o ar que respiro:
embora nao me pertenca,
preenche-me no ciclo de minha respiracao,
na frequencia em que existo;

Fiel como o esforco
e doce como a vitoria -

Pensando-te sou forte,
Desejando-te sou uno,
Amando-te sou o proprio amor.


(Vientiane, Laos - aos 29 de Marco de 2008)

haikais casuais, parte 4

Luang Prabang, relaxada,
Beija o milenar Mekong,
Desdobrando-lhe a tarde abafada.

25.3.08

Apresentando Carol

Menina de olhar manso, sorrir quase mais manso que o olhar, junção matreira. Mescla de interior e megalópole; soluço e espanto em palavras afiadas, dentes em sílabas concisas. São-dalos em desconstruções humano-geniais, que me fizeram correr atrás, e corri suave, por essa existência candango-carioca. Em seu istmo poético virtual, vislumbrei vários poemas e afrescos que eu mesmo já quis escrever de alguma forma, ou simplesmente dizer. Por esses e outros mil motivos que ainda hei de descobrir, faço dela as minhas palavras, nesse pequeno halo de luz meio anti-ambi-ente enfumaçado, pois: "- o que se solta pela boca / despolui o coração."


"per-FUME"

Se já não quero viver
vem a fumaça
e consola
a respiração.

Sem um vício
é mais difícil...

Escândalo,
ex-sândalo:
fim cinzento da paixão.

Baforado,
esbaforido.

SIM:
perturbe
&
per-fume
o ambi-ente querido
- o que se solta pela boca
despolui o coração.

leiam mais em: http://engolecarole.blogspot.com/

24.3.08

Contraponto

'As margens do Mae Nam Chao Phraya
Quisera jamais acordar deste sonho
De lembrar-te e tecer, risonho,
Mil venturas de nossa doce historia
De alvas nupcias 'a vil memoria
De mais um despertar sem te ter -
'As margens do Mae Nam Chao Phraya.

Aos pes do Wat Phra Keaw
Quisera largar minha toxica pena
Que ja sozinha te versa, morena,
E o opio destes versos tailandeses
Me inebriam repetidas vezes,
Quixotesca figura, respiro o incenso -
Aos pes do Wat Phra Keaw

Aos nao-desejos redentores de Buda
Contraponho, doente, meu desvario,
Rezo-lhe a ti mil preces e sorrio
Sorvendo estas sidarthicas calmas,
Planando na fusao de nossas almas,
Fervor shakespeariano que apresento -
Aos nao-desejos redentores de Buda.


(Rio Chao Phraya, Bangkok, aos 24 de marco de 2008)

20.3.08

Fabuleta

Estava no centro
pra onde convergiam as estradas de mão dupla.
Caiu de pára-quedas,
sem lembrar de onde vinha.
Era meia noite,
queria meio dia.
Descascava laranjas com um canivete enferrujado.
Uma após a outra
as frutas se mostravam apodrecidas.
Já havia descascado uma dúzia
e ainda insistia.
Ficou sentado pensando em qual caminho se arriscar.
Num seria rei
mas só havia um rainha.
No outro tinha sombra
se cansaria.
No outro sol
torraria.
Pensava em um e lembrava-se dos tantos outros que não teria.
Pensou
Pensou
pensou
Veio um caminhão e plaft.

2005

19.3.08

Valter Di Lascio, sempre

voltando às páginas deste "presença", Valter Di Lascio derrama sua redenção e seu idealismo andarilho. tenho encontrado verdadeiro alento nos versos deste poeta das antigas, que colheu os frutos e os espinhos de uma vida que sempre foi e ainda segue na estrada - ou nas estradas, porque como diz ele "pode me chamar de meio-fio; mundo temos dois: o de vocês e o nosso".

- - -

O novo liberta-se

De que adianta a vida
..........se não houverem riscos?
De que valeria a faca
..........se não cortássemos os artifícios?
De que adiantam as verdades empoeiradas?
Um palavrão preso na garganta
Um fato que poderia ser
..........mas ficou preso nas artimanhas
..........dos velhos grilhões
Com agilidade felina, o novo liberta-se
..........jogando-se da janela do sanatório.


(Valter DiLascio, do livreto "Biscoito com champagne")

15.3.08

Louco por ti

Escrevo-te flores
Planto-te versos
Fundo-te um quadro
Pinto-te um anel
Troco tudo
Louco-me os pronomes
Faço-te nuvens
Napoleonicamente apaixonado
Choro-te mel
Só pra te alimentar
Seco-te os olhos
Quando me vês caso perdido
Nadando em poças
Um soneto por hora
Um louco por ti
Mas doido de pedra
Inamável de tanto amor
Sorvete na testa
Insisto-te rimas
Destilo-te beijos
Esculpo-te estimas
“Toma toma
tudo para ti !”

Sorve-me
Acolhe-me
Conserta-me.


(Aos 14 de março de 2008)

13.3.08

Ver-te bis

Cá no mar
dias como peças de dominó
que surgem, cadenciados,
asiaticamente iguais,
vão pondo-se, glaciais,
e em fileira são tombados

Conto-os para ver-te nova vez
em tuas nuances sutis,
a expressão que tens nos olhos,
a matiz alva de tua tez…
conto-os para ver-te bis.

E se teus dias me põem à parte
ou aproximam-te ainda mais –
que febre me responde ?
Cingo-te em doces sonhos,
o frêmito da lira romaria
latino-minha de dedicar-te
esta nina e simples poesia.


(Rio, Aos 13 de março de 2008)