24.4.15

Éramos jovens



Éramos jovens


Somos apenas jovens
Olhando para o céu,
Em assombro e maravilhamento.
Vinte anos passam voando,
Todos sabemos disto;
Todos lembramos
Quando éramos jovens
E olhávamos para o céu,
Em assombro e maravilhamento;
Não queríamos envelhecer –
Não precisávamos.
Nem de pretéritos,
Nem de compromissos inúteis
Pois que o maravilhamento com o simples
Bastava.
Estar feliz é ser simples.
Para os velhos,
Ser jovem é estar feliz –
E não agregar

Compromissos inúteis.


Isaac Frederico
Aos 25 de janeiro de 2006

13.4.15

Adeus



Adeus

A parte mais difícil
Foi dizer-te adeus
que,  de pra sempre ciente,
Bombeou-me lágrimas,
raciocínio coerente
mas vazio,
Um caminho sem coração.
Não consegui pensar em nada,
Os olhos ardendo,
As folhas varrendo a rua
ao lado da Biblioteca Nacional,
A realidade nua,
Acontecendo diante de nós
Como um fá diminuto
desencantando o ao redor,
A mão no teu ombro,
Um amanhã melhor
em cacos,
Um escombro sinistro,
Um sonho sépia;
Obrigado

e adeus.


Poema do livreto "Yangon", outubro de 2009

10.4.15

Conserto



Conserto


Eis a chave de fenda, amigo.
A bitola do teu peito,
A mudança de conceito,
Uma ferramenta sóbria,
Conserta-te óbvia,
Atende-te, feito.
O hidráulico coração
Diz-te tanto,
Por que não ouves,
Que fazes que somes?
O suado rosto, tenso,
Um medo imenso,
Uma diarréia desidratante,
Teu processo errante,
Teus cigarros na banca,
Tua banca, indecente,
Sai daí, tou contigo,
Te ponho uma toalha molhada
Na testa inchada,
A febre demente,
O corpo débil sente,
A flama acetilênica
Do conserto urgente.

Aos 13 de abril de 2009

3.4.15

Belo Horizonte



A tarde esmorece o medo dos outros.
Os quartos são vagos e não mostram luz
antes a nos guiar ao verbo e à hora
da beleza dos erros dos outros.

As palavras fluem por não sê-las.
Vais sem Verlaine ou Caieiro
tens apenas essa tez feia e torta
como toda poesia além do signo.

Sabes, afinal, bem pouco de ti.
Tens esses remorsos nos bolsos
e algumas histerias no teu riso
a rasgar teu rosto bobo e frívolo

embora teus olhos tão infantis
ainda saibam conter tristezas
na perspicácia de não se cerrar
por resistirem em pele e sangue.


Laís Ferreira