24.9.23

Perdão


Quisera ver-te em suplício

mas logo me dou conta

– e, de tudo, logo isso! – 

    que tu és eu.

Sou eu quem me amedronta.

 

Quisera acusar-te de tudo.

Indiferente, abrasiva.

Mas estaria aí, sobretudo,

– porque quem é-te a ti sou eu – 

 sendo eu mesmo evasiva.

 

Quisera punir-te inteiro,

erradicar tuas sementes – 

Mas é o mesmo roteiro:

punir-me-ia. Eu te sou,

da medula até os dentes.

 

Quisera aviltar-te a honra.

O desonrado seria eu.

Viveria à tua sombra

porque nós somos a mesma coisa:

Tu és, em larga escala, eu.

 

Quisera, finalmente, teu perdão,

tão desgraçado me senti,

destruído sem concessão

– e perdoavas-me! Logo eu!

Minha cura se fazia em ti.



17.9.19

Visceral


Tateio no escuro, encontro tua boca – 
(É rouca, tua voz...) e meu membro duro
Palpita e, pedra do tesão mais puro,
Pede, das tuas taras, a mais louca.

Teus peitos seguro, rijos, rosados,
E os lambo na urgência do sedento;
Ficas de quatro, me aproximo lento,
Metemos bem firme, desesperados.

Com sede, fogosos, cio brutal – 
Gemes, se na estocada visceral,
A cabecinha teu útero toca.

Urras, louca, no orgasmo sideral
Que compartilhamos. Lambes meu pau,
Sorves as gotas de quem bem te estoca.
                                    
                                    Isaac Frederico, aos 30 de maio de 2019

10.5.17

Uma concha ao pé do ouvido


Poema inesquecível do William Galdino, como que um testemunho, que sempre vale a leitura, cada vez. Datado de 21 de março de 2009, Rio de Janeiro .-



Daquelas águas que conforme os dias variavam suas cores 
Verde 
Vermelho 
cinza, surgiam crinas, eram cabeças de éguas degoladas. 
Porcos inchados, cães saciando a fome de urubus. 
Cavalo morto atrapalhando o futebol dominical. 
Susto de verão para os banhistas 
nos tempos em que suas areias eram invadidas por incontáveis guarda-sóis. 
Mandalas reluzentes a beira-mar.

Jigogas. 
Cobras de duas cabeças. 
Minhas mãos revirando as surpresas trazidas depois da chuva. 
Carrinho sem roda, boneco sem perna, espinha de bagre. 
Baiacu sob o sol estufando até estourar. 
Naquelas areias catei figurinhas de chiclete. 
Roubei o doce da macumba pedindo respeitosa licença aos santos. 
Lacei pombos pelos pés, os brancos valiam mais.

Um trocado no bolso


Champagne de reveillon virando ficha de fliperama.

Meu corpo estremecendo num mergulho de verão. 
Era o bater das ondas misturado ao fremir das mãos.

Engravidando marés

Guerreei com amêndoas. 
Vi um tubarão (depois descobri ser cação) pendurado numa árvore. 
Tive pena dele, de bobeira veio se enrolar numa rede e foi morto a pauladas. 
Fiquei um bom tempo sem entrar naquelas águas, medo de avistar barbatana.

Pequenas ondas 
Hawaii de playmobil.

O barco de Iemanjá que carregamos pra casa e se tornou a nossa nau. 
Trampolim pros mais acrobáticos mergulhos.

Siri no caniço, tainha no puçá, espada no arrastão.

Rabo de arraia chicoteando a memória.

No almoço uma fritada de marisco com limão. 
Sem princesinha do mar, sem oceanos. 
Naquelas águas escuras estão as minhas mais límpidas lembranças. 
Praia da Bica da janela deste ônibus te vejo.

Penso no poeta Hart Crane e me lanço em tuas águas.

Onde tudo começa onde tudo termina.




24.4.15

Éramos jovens



Éramos jovens


Somos apenas jovens
Olhando para o céu,
Em assombro e maravilhamento.
Vinte anos passam voando,
Todos sabemos disto;
Todos lembramos
Quando éramos jovens
E olhávamos para o céu,
Em assombro e maravilhamento;
Não queríamos envelhecer –
Não precisávamos.
Nem de pretéritos,
Nem de compromissos inúteis
Pois que o maravilhamento com o simples
Bastava.
Estar feliz é ser simples.
Para os velhos,
Ser jovem é estar feliz –
E não agregar

Compromissos inúteis.


Isaac Frederico
Aos 25 de janeiro de 2006

13.4.15

Adeus



Adeus

A parte mais difícil
Foi dizer-te adeus
que,  de pra sempre ciente,
Bombeou-me lágrimas,
raciocínio coerente
mas vazio,
Um caminho sem coração.
Não consegui pensar em nada,
Os olhos ardendo,
As folhas varrendo a rua
ao lado da Biblioteca Nacional,
A realidade nua,
Acontecendo diante de nós
Como um fá diminuto
desencantando o ao redor,
A mão no teu ombro,
Um amanhã melhor
em cacos,
Um escombro sinistro,
Um sonho sépia;
Obrigado

e adeus.


Poema do livreto "Yangon", outubro de 2009

10.4.15

Conserto



Conserto


Eis a chave de fenda, amigo.
A bitola do teu peito,
A mudança de conceito,
Uma ferramenta sóbria,
Conserta-te óbvia,
Atende-te, feito.
O hidráulico coração
Diz-te tanto,
Por que não ouves,
Que fazes que somes?
O suado rosto, tenso,
Um medo imenso,
Uma diarréia desidratante,
Teu processo errante,
Teus cigarros na banca,
Tua banca, indecente,
Sai daí, tou contigo,
Te ponho uma toalha molhada
Na testa inchada,
A febre demente,
O corpo débil sente,
A flama acetilênica
Do conserto urgente.

Aos 13 de abril de 2009

3.4.15

Belo Horizonte



A tarde esmorece o medo dos outros.
Os quartos são vagos e não mostram luz
antes a nos guiar ao verbo e à hora
da beleza dos erros dos outros.

As palavras fluem por não sê-las.
Vais sem Verlaine ou Caieiro
tens apenas essa tez feia e torta
como toda poesia além do signo.

Sabes, afinal, bem pouco de ti.
Tens esses remorsos nos bolsos
e algumas histerias no teu riso
a rasgar teu rosto bobo e frívolo

embora teus olhos tão infantis
ainda saibam conter tristezas
na perspicácia de não se cerrar
por resistirem em pele e sangue.


Laís Ferreira

23.3.15

Amor e luta




Na espraiada havia uma concha
E dentro dela o amor
As ondas vêm e a levam
Deixando areia e a dor
O importante nessa labuta
É que cada onda que quebra
Cada vez mais bruta
Também traz uma concha
Com o amor em sua luta.



Fábio Alves dos Santos

Cabo Frio, aos 10 de março de 2015

27.1.15

Jardim















Das árvores se desprendem as folhas,
Já castanhas, em seus tons outonais
E descendem, em sutis espirais,
Ao solo enquanto, distraída, olhas

As flores, suplicando-te que as colhas.
Minutos, neste jardim onde estás,
Dão séculos nas urbes guturais,
Independe que cidade tu escolhas.

Borboletas e seus voos escalenos,
O ar cristálido, livre de benzenos,
O orvalho floral batizando a alma,

A terra vermelha, a noite estrelada,
Murmúrios do rio, a água gelada
Banhando-te o ser em cósmica calma.


(Aos 27 de Janeiro de 2015)


14.9.14

Ugra Zine Fest























Nos dias 20 & 21 de Setembro:
Presença & Dodo Publicações na Ugra Zine Fest no Centro Cultural São Paulo.

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16.8.14

Feira Tijuana de Arte Impressa
























No próximo fim de semana em São Paulo:
Presença + DODO publicações + Cozinha Experimental + Editora Criatura
Confira a programação detalhada e a lista de participantes no site:
http://cargocollective.com/tijuana/FEIRA-2014

23 e 24 de agosto, das 12h às 20h

CASA DO POVO
Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo - SP

OFICINA CULTURAL OSWALD DE ANDRADE
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro, São Paulo - SP