21.8.10

Miró grita aos olhos


Casualmente abro o pequeno livro
e então surge a explosão.
Luminosidade de encantamento.
Misto de negrume e sol a pino.
Figura atordoada
ante o voo mirabolante do pássaro.

Linhas musicais

Pena azul

Dedos ventosas

Forma-traço-cor

estrela de risco.

Guarda-sol
..............ponta
......................plá.

Fogo

dia circular.

Onde tudo volteia
na dança plena das cores.

Junho de 2010

10.8.10

Notícias de uma ilha particular

Olá, rapaziada,
Segue relato e poema do André Bentes, após sua recente viagem no Norte.
O poema é vivíssimo e cheio de retratos interessantes.
Confiram abaixo o contexto e, em seguida, o poema.
Abraços !

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Caríssimos-as,

Estou de volta na terra do Zé Carioca.
Estive por duas semanas incríveis do outro lado da fronteira do rio que não tem ponte, no Amazonas.
Como não tinha comigo sequer minha velha máquina analógica, encontrei essa maneira de dividir com vocês essa experiência...
O cenário é uma ilha (sem energia elétrica, apesar de estar ao lado do que foi considerada a pior hidroelétrica já construída, pelos danos e pouca energia http://www.cepa.if.usp.br/energia/energia1999/Grupo2B/Hidraulica/balbina.htm) no arquipélago da balbina, 3 horas por terra, 3 por água, de Manaus.
Fui acolhido por uma família que vive exclusivamente da caça e da pesca, nascidos na fronteira com a Colômbia.
lá vai:



Notícias de uma ilha particular



O sono é leve na noite funda no lago do tacunaré...

Venha senhor André, Seu Pedrito é quem lhe chama

Os meninos já se banha e a noite já ta de pé

Da’raimunda e as luminárias,

A canja e a caça na mesa

Os cão late: cobra ou cutia

Os menino o os jacaré?



Se assente nego Zé

Que hoje é sua essa ilha

tem café e dominó

e a cachaça é escondida



Carumbé trouxe o tatu

Buriti de sobre a mesa

Na gaitinha só forró...

- Que dia que é lua cheia?



Na reserva roba os bote e leva os motor e tudo

- Por isso que eu mato onça, fui largado nesse mundo

Nascido lá nas fronteira, um dia na perimbeira

Deu medo de entrar no mato

O tiro saiu tremido

Mas fome que é coisa feia.



Criança e muié no chão

- Trankilo aqui né rapaz?

E não tem carapanã

Porque fomu abençoado

Meu sonho é um gerador

E galinha botadeira

A casa fui eu que fiz

Cumas tora de madeira

Carumbé trançou as paia

Amanhã nós vai de bote lá pro lago da cucaia

Mas é bom não entrar nas água

Nem na terra do seu Chico

Tem batata encantada que se transforma nos bicho

Os boto bate nos bote... as onça devora os cão

!E não tem tiro de espingarda que acerte o catiço não!

- É macumba Seu André. Fala um dos meninos.

Amanhã nós vai pegar uns maceta duns Açu

E tu que vai pilotar...



No céu que tem mais estrela

Jatobá é chá pras cadeiras

a paz é tão corriqueira

e a rede balança sem pressa.



No lago onde a noite é leve...

O sono é fundo...

O dono é o tacunaré.



Boa noite

Todo mundo.