30.6.07

Ama

Ferve-me o corpo tua presença
E rubra calorosa a face fica
Trépidos os atos e as pálpebras
Dos meus olhos teimosos que te fitam
Desejosos os meus lábios ficam mudos
Conquanto bêbado lhes diriam quase tudo
Ansiosos em tocar-te a boca - almofadas de veludo

Furto-me olhar-te direto aos olhos
Tal com servo não faria a sua senhora
E submisso recolho-me ao amor
Egoísta e só meu que tenho agora

Umedecidos os olhos ficam
Como desejo ver-te as íntimas nuâncias
Onde afogaria meu instinto primitivo
De dar a ti um presente - uma criança
Herdeira de tua beleza e ternura
Que mostraria a todos nosso amor
Ao brincar alegremente pelas ruas

Furto-me a dizer-te direto aos olhos
Tal como mudo fico à sua presença
E que me faz teu servo - teu escravo
Sua nobre e senhoril indiferença

(Fábio dos Santos)

29.6.07

O cosmo

alou presença !
não me lembro se já postei este poema, originalmente do livreto Lanterna Mágica, de setembro de 2006. De qualquer forma, aqui vai - O cosmo


As estrelas estão ao meu lado,
Caminho sobre elas,
Pontos de luz
Sem voltagem palpável.
Um andarilho tão impossível
Quanto absolutamente palatável,
Um pescador que deduz
O absurdo das selas
No cavalo alado
Das sãs seqüelas
Irreproduzíveis,
Tanto quanto extraordinárias,
As experiências místicas
Das sensações visionárias,
Absolutamente indescritíveis;
O anzol que reluz
O impossível das velas
Nos campos de vento
Do pó das estrelas,
Inimagináveis
Tanto quanto factíveis –
O cosmo.


(Isaac Frederico, aos 02 de agosto de 2006)

22.6.07

Provérbios "ultr´humanos"

"O ato peremptório pede um final ausente."

"A rosa que escala o inverno,
vem nascer na lama."

"O espinho que fere o menino,
é o espinho que serve escada aos insetos."

"O menino é um inseto no retrato antigo,
o retrato antigo é um inseto morto no quarto."

"A rosa que marcha para o alto não é rosa apenas,
é um soldado, rosas não marcham; e nunca rosa, apenas vermelho."

"As cores se inventam, assim como primários os cães sob as rodas, vermelhos."

"O vermelho é o amarelo do sol junto ao magenta do homem."

"O marrom é o fumo descabido e o rim aberto sob luzes fluorescentes."

"A casa está para o corpo, como o copo de chope para as bolhas."

"Meticulosos são os dedos de Cristo, infalíveis os dentes do demônio."

"Boas mentiras se contam sorrindo, boas verdades chorando."

"Quando o mau em miligramas, o bem em átomos."

"Paixão: em tudo é preciso; mesmo sabendo que tudo há de se tornar impreciso."

"Melhor saber que saber de cor suas qualidades, é enxergar nitidamente seus limites."

"Ela precisou morrer algumas vezes para exemplificar aos filhos o valor da vida."

"O homem cuja arma é o amor,
jamais encontra adversários à altura, quando numa guerra soldado for."

"A lagoa que somos precisa de sombras para que não nos evapore por completo o sol."

"És de tamanho igual ou menor que meus punhos cerrados,
mas possui mais liberdade que todo o meu corpo."
(aos pássaros - às portas de uma penitenciária)

"O poeta está sempre a se casar com a vida,
mas segue por ela eternamente apaixonado pela morte."

"Poetas nascem póstumos."

"Tudo o que precisamos ouvir, já foi dito, reescrito, pensado, diluído...
mas não da mesma forma. E é o poeta este gerador combinativo."

(r. elfe)

16.6.07

Rosa

Um barco me faz ausente de ti –
A engenharia sorri, exata,
Triunfa a lógica nímia,
Soberba, dos números infrenes,
Dos litros de óleo,
Dos donos solenes
Do absurdo empresarial.


Mas se faz prenhe de raiva
E rasga-se de dor:
Meu ímpeto sonhador
Vem tão puro
E invariavelmente –
Avassalador.
O idílio que te faço,
O deâmbulo que traço
Até toda ti, toda porque una,
A lira mais doce que já ouvi,
A rosa mais lira que já vi,
O ouço mais claro que senti.


A lembrança do teu toque
Beija meu eu-poeta,
Apaixona-me por apenas ser
E implode, sem nem querer,
O castelo pateta
Do barco de óleo e aço,
Neste poema que te faço…


(Isaac Frederico, em 16 de junho de 2007)

15.6.07

De boca aberta

caros poetas e amigos das letras,
vai aí um poema de Urhacy Faustino, um poeta que conheci através da wendy, e ela através do site de poesia erótica cseabra.utopia.com.br/poesia/
o site é muito bom e vale uma conferida de perto, definitivamente.
vida longa ao presença, poesia pra sempre...

* * *

Em nossas brigas não voam televisões,
nem há corporais agressões:
o verbo é a flecha que nos perfura
mesmo nos tempos e modos que a gente se censura.
Trocamos o costumeiro texto sacana
por verborrágica luta insana
e, se alguém se sente em desvantagem,
apela pra figuras de linguagem,
misturando metáforas, pleonasmos,
com licenças poéticas, no orgasmo
ao medirem forças dois titãs.
Até que já sem fala, de manhã,
mais sedentos que famintos, como taças
nos bebemos um ao outro, extasiados
de repente sem palavras, embrigados,
(eis que a língua se enrola, a gramática falha),
nos lambemos em nossa cama de batalha,
onde desejos e tesões explodem atômicos
em delírios guturais, gozando afônicos.


(Urhacy Faustino)

13.6.07

Samba levanta poeira

ave, presença !
posto hoje uma música do Felipe Schuery, com o título acima, que tem uma letra belíssima.
abraços a todos !

* * *

Tombei do bonde do amor,
Montei na dor do pranto meu
Com pinga sou Galileu,
Passo a observador...

O céu escuro faz-se brilho só,
Avisto uma estrela linda de dar dó
Piso na lua, a natureza não me deixa não.

Apesar de derrotado,
Me mantenho levantado, braços dados com o mundo
Agora ouça, de você já me esqueci – com mil fiéis amigos posso me divertir
Caixa de fósforo, garfo no copo e violões
Fazem fundo pro meu canto que encanta corações

Te esqueci pra valer !


(Felipe Schuery, Samba levanta poeira)

8.6.07

Ponto do escritor

amigos do presença, poesia é de que precisamos... viajar e poesia, som e poesia, viajar e som, viajar e viajar, trabalhar mais a ansiedade, contemplar, atitude poética.
posto uma poesia do flavio nascimento, poeta vanguarda e que conheci numa das idas ao beco do rato, com vinicius e william.
abraços,

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Pega no teu livro para ler
Pega na pena para escrever.

Vem anunciar
o que você tem
pra dizer.
A gente quer ouvir
A gente quer saber.

Vem divulgar
proclamar
a tua profecia.
Vem fazer nascer
um novo dia.

Vem sonhar
construir
a tua melhor fantasia.
Vem espalhar
alegria

Vem falar de Nosso Senhor
Vem anunciar
trazer
o Cristo Redentor.

Eu não sou digno
de segurar a tua mão
Mas vem me banhar
nas águas do rio Jordão.

Traz tua graça
tua inspiração
tua energia
tua iluminação.

Faz um poema
pra gente recitar
Faz um verso
pra gente mostrar
Faz uma peça
pra gente montar
Faz uma ópera
uma ária
uma toada
pra gente cantar.

Pega um lápis
pra redigir
Pega um desenho
pra colorir
Faz uma canção
pra divertir
Faz esse povo
gargalhar
brincar
sorrir

Pega um pincel
pra pintar
Pega uma máquina
pra fotografar
Pega um filme
pra documentar
Pega uma luz
pra clarear

A tua palavra escrita
copiada
anotada
redigida
Mostra que a Vida
tem sempre uma saída
Mostra que a Esperança
não está
totalmente
inteiramente
completamente
PERDIDA !!!


(Flavio Nascimento, "poesia popular participativa", no dia do escritor, 25 de julho de 2006)

5.6.07

Sem titulo

alo presença, posto uma poesia sem titulo da Ligia Pinheiro, uma das melhores dela que ja li.
abraços a todos.

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O que eu não conheço,
não me faz falta.
O que não sei,
não temo.

Quanto tempo,
não me preocupa.
De que maneira,
não me interessa.

Isso tudo não faz sentido para mim
Porque já é.
E ser me basta.

Não preciso de contratos
De prazos, de promessas
Na verdade não preciso.

Mas quero,
quero só o que já é
e o que é, não é só.
É o bastante.


(Ligia Pinheiro, em 2006)