27.1.09

Alforria

Pintura do autor, 2004

- - -

Liberdade no sonho.
Guia de cego.
Sol ponteando nossos passos.
Os sonhos libertando do real,
O sucedendo o si-bemol,
Bengala do conhecido,
Capuccino sem açúcar,
Liberdade de escolha
Entre Coca e Pepsi,
O Globo ou Jotabê,
O drama de acontecer,
Perfumes que um gosta
Mas o outro não,
Um “por quê existo?” no 433
Vila Isabel vermelhinho,
Sendo ou não,
Sem troco pra dez,
Guia de cego.
Liberdade dentro do sonho.


(Aos 25 de janeiro de 2009)

25.1.09

Por trás daquele monte

..............................................................................................Pintura de Rafael Betti

De repente é aqui
onde a vida parece apequenar-se.
Sem rumo a desbravar.
Sem vislumbre de curva desconhecida.

Há uma outra paisagem
um desvio a beira do caminho.
Nele adentro e chego lá
onde as ervas crescem sobre o barro.
E a manhã é límpida e sem tropeços.
Amarelo-céu
................branco
azul.

Ao cair da noite
o mar de estrelas
pousa sobre nós seu brilho fugidio.

E bebemos o sereno de peito aberto.

Sem disfarces a nos cobrir as horas.
Sem passo rápido para uma nova–velha fuga.

Lá.
Na curva da noite
onde a trilha corta o mato
e só há lua guiando o passo.

Coruja girando a cabeça.
Gavião descansando na cerca.



Onde quando um dia pesa muito
o outro é recomeço.

Janeiro de 2009.

14.1.09

Um cara de futuro

pintura do autor, 2000.



No jardim, na cadeira
Rasa, junto à grama,
num bloco febricitante de notas
Fabrico asteriscos,
fabris pois que muitos
e, feitos de três rabiscos,
tencionam explicar
meus foscos intuitos,
fortuitos e infinitos…

Um dilúvio de dilemas
na cabeça
e um chuvisco
quase chuva, quase seco,
molha o bloco,
ora chuva, ora seco,
desconcerto-me,
quase me destrona,
quase seco, quase físico,
de minha cadeira rasa,
rente à verde
grama.
Sigo alheio,
Rabsicando os *
Os chuviscos que os molham,
a cadeira rente
à grama verde,
os detalhes
que não me importo
se são tudo ou cem por cento
ou mesmo quase

“Que futuro…” penso
no dilúvio febricitante
de descompromisso
com aquilo ou com isso,
com o fim ou o início,
o apenas ao meu contento,
o cem por cento
isento,
rente,
àquela grama,
apenas isso.
“Um cara de futuro”,
seguro e brilhante
no que tange
aos issos, chuviscos,
parenteses
e asteriscos.



(Aos 24 de janeiro de 2008, do livreto "Iuri Gagarin - e outros poréns)

12.1.09

furnas de frutas doces

Estrelas acocoram-se nas pernas
e bisbilhotam furnas de frutas doces

são amantes a rondar prazeres
menores a desvendar cruezas

arredores de canções modestas
afibrilam peitos feitos de anis

e coloridos sonham com tardes poentes
bocas roxas de vento aproveitam laranjas
que apresentam paixões de verões inteiros

anoitecendo não é mais de areia que se constrói castelos
e as estrelas voam raso sobre as dunas nas luas de janeiro

10.1.09

"Colheita"

O galo amadurece a manhã.
O urubu amadurece a morte.
O peito amadurece a faca,
que amolada planta o corte.

O preto amadurece o nada.
O silêncio amadurece o vão.
Do não brota a palavra.
O corpo apodrece a larva.
Do amor se colhe o chão.

"à granel"

Tente de novo
antes que o novo
seja tentado
a se tornar passado
novamente
acontecido.

x

Meu olhos jovens não viram o que era rude.
Só enxergavam num todo a leveza.
Não restou nada além da certeza,
de que o tempo é sim, um afiador de gumes.

x

Ousei
fotografei o poema.
Tanajuras negras no reluzente monitor;
Que entre o dedo e o flash, por um suave tremor
foram esmagadas.
Na foto brilhava talvez um quadro
mudo, grave e desfocado.
Pensei no ato:
Um poema pintado.

Flávia Muniz

.....................................................................Pintura de Paul Klee


Nas minhas andanças pelo mundo dos blogs cheguei até a Flávia e gostei de muita coisa que li no seu blog Boa tarde, Senhor Smith, depois acabei descobrindo que ela era irmã da Ana Muniz amiga minha de longas datas da EBA.
Além de se dedicar a prosa e a poesia a Flávia também canta na banda Luisa mandou um beijo.

http://boatardesenhorsmith.blogspot.com/
http://luisamandouumbeijo.com/


A matilha

Quantas palavras cabem na boca do poeta?
Quantos poetas cabem diante do espelho?
Tantas perguntas servem aos pensamentos que empilho.
Faço colagens dadaístas - você pode dizer que é plágio.
Mas se fico calada ; podem achar que estou morta.
Muito prazer meu nome é Vivivinha da Silva.
Alguns me chamam de rabiola de pássaro.
Sou assim mesmo me apresento de um jeito sanguínea,
e não poderia ser de outra forma.
Aqui no planeta Terra tudo é muito engraçado
Desconfio até que o mundo é caixa de fazer gente maluca.
Poetas são loucos em eterno estágio
na fábrica onde:
ferramentas são as letras
idéias são as máquinas
produtos são os corações que afetam.
Minha fala é a mão de um gigante do espaço.
Eu tenho consciência disso e atravesso as fronteiras dos mundos.
Meu intuito é encontrar a essência intrínseca do uno
e a dita cuja está no outro quando não calo.
No final de tudo
Sou esta que pergunto
Quantas palavras cabem na boca do poeta?