30.6.08

Feroz é o galo,
advento crucial da manhã.
Cruza de noite e luz.

Feroz todo mundo
dentro do mundo, feroz.

No bonde, no escuro às 6,
na padaria abrindo.
No raiar do poste elétrico, torturando o mendigo.

A primavera sonâmbula,
canhões crivados de sol.
O sideral volume espacial da aurora.
E teu cadarço frouxo, roxo,
amarrando tudo.

Feroz tua boca,
mordendo o ócio, travando o ofício.
Tua ferida cobrindo a falta.
O frio sem o lençol pra matar.

Feroz tua fuga desembestada,
tua verruga na cútis prata,
paupérrima tez mulata.

Feroz é a tv, cintilando na sala sem ninguém.
Teu pai morrendo no quarto.
Tua vó desenterrada.
Tua pá de ossos coloridos.
Teu filho viado.
Tua pasta de fígado de ganso.

Feroz é o pasto, roendo a terra.
A Terra tragando o pasto;
pastor comendo ovelha - prova óris do sistema.

Feroz é a tela, janela vomitando margem,
esconde-esconde à tarde.

Feroz é o galo,
rasgando a manhã.
Fantasmagórico trem amarelo,

fulgente,
advento crucial
do poema.

28.6.08

Passeio

Caros, de volta indefinidamente, saudoso destas páginas, vejo que o Presença cresceu em várias direções e manteve seus bravos pontos na poesia, com acréscimo de boa prosa vez por outra, novas trocas, novas pessoas, novas imagens (grande William!) e pouquíssimas lacunas. Quase dois anos de estrada, Presença. Avante!


Passeio


Em meia hora de procura tua
Rasgada, febril de suores
Inquieta de tripas
Olhei por você.

Quase te acho em Drummond
Perco teu rastro
por pouco
Na toalha úmida
No silêncio liso
No inverno mais frio.
Por pouco.

E lembro-me de ti no jardim
Vestido leve em paz com o sol
Abraço fácil de acordo
De toque, arrepio
Penumbra.

Mas não era o caminho.
Não houve o encontro.
Meu destino não foi o passeio.

Meia hora passou
Como tantas outras passaram
Por nós
Meus membros duros
Tuas curvas seda
Nosso cimo de tarde.

Passou. E eu
Num dos lados da cama já não procuro
Mas em versos
Te dissipo.

aos 27 de junho de 2008.

27.6.08

Pan

.........."Esse peixe é tão lento que até um sujeito analógico o pesca", menosprezou o cidadão-digital. Os peixes modernos, como tudo o que é contemporâneo, não dão conta das expectativas depositadas sobre eles – ou são as expectativas de hoje em dia que colapsam qualquer objeto de sua incidência, na medida da nanotecnologia e a ultrainformação condensada em uma impressão digital, acessível somente aos nervos, toda a cartografia de tudo que já se pensou em todos os segundos de todos os big-bangs desde o instante AA#B00345772-21.
..........Isto é obviamente uma piada, esta é a impressão que tenho, mas ao mesmo tempo é difícil, eu diria inatingível, se ver livre da correria que, quanto mais distante do epicentro, menos sentido tem. É um fenômeno de textura que, apresentando um padrão de mosaicos, na escala natural, revela imagens concomitantes em escala cotidiana, e se apresenta ao tato com sofreguidão e piedade, na escala macro, quanto mais macro, maior, por definição, e maior, linearmente, a palavra-semente, ruim, àspera, sobre a boa nova, que de nova tem o bilhar AA#B00345772-21 de anos.
..........A perdição e náusea vieram a galope para os visionários deste fato, os magros que andaram, andaram, andaram e andam, carregando em suas faces a face solta do fato dependente do tempo para ser fato; sem vértebras somos reféns da gravidade e não podemos andar para diante, talvez a condensação da informação e a rapidez que nos é exigida sejam a vértebra necessária – ou talvez a vértebra a mais que nos pune com um desequilíbrio do nosso centro de gravidade, quem sabe?, quem tem referencial suficientemente cósmico para afirmar? E aí estamos outra vez nos terreno pantanoso da dúvida eterna, eterna desde sempre, a contingência nunca utilizada, o continente pan, uno, a questão que nos é inseparável desde… e lá vem outra vez o "desde", o tempo, a informação, o labirinto, o desmembramento, pedaços cognoscentes de Deus e servos obedientes do Eu.

(Aos 18 de janeiro de 2006, parte do livreto "Acontecente")

25.6.08

Trecho do diário sem floreios

“Me beija, me beija”. Fazia calor, ela tava tão pirada que tava pondo os peitos pra fora na frente de todo mundo. Eu falei pra ela maneirar. Ela disse “Vamo lá pra casa, minha mãe só volta amanhã”. Havia mais de um mês que eu não comia ninguém. Mas eu sabia que se trepasse com ela tudo ia voltar, as mesmas merdas de sempre. Eu lhe disse “É melhor não” Soltou um riso debochado e gritou “ Não gosta mais da fruta seu viadinho”
Tive vontade de dar um murro na cara dela. Ela se agarrou no meu pescoço e ficou “Vamo, vamo” .Eu disse não e ela continuou. Aí fiquei puto e dei um empurrão nela, ela bateu na vitrine e se esborrachou no chão, tentei ajudá-la a se levantar, ela deu um tapa no meu braço e começou a me xingar. Pedi desculpas, ela ficou histérica, virei as costas e a deixei lá. Atravessei a rua e peguei o ônibus. Fiquei mal pra cacete, achei que tinha exagerado, mas depois me perdoei , ela já tava passando dos limites. Do meu lado se sentou uma senhora que começou a falar sobre o desrespeito que sofriam os idosos por parte dos motoristas. Toda hora ela me perguntava o que eu achava de uma das suas colocações, a última coisa que eu queria naquele instante era conversar. Gostaria que existisse a pílula da invisibilidade pra poder tomar nesses momentos. E ainda tinha a minha mãe me esperando em casa pra mais um sermão. Puta que o pariu, eu realmente queria sumir. E a senhora do meu lado continuava “Não é mesmo, não é mesmo” eu concordava com um riso sem graça que escondia a minha vontade de mandá-la à merda abrir a janela de emergência e jogá-la de cima do viaduto. Tava no limite, a qualquer momento eu ia explodir, cólera, raiva de mim, incompreensão,falta de perspectiva, ódio pelo rumo que as coisas estavam tomando. Fechei os olhos para um cochilo pacificador. Acordei com o trocador me sacudindo “Ponto final”. Só faltava essa. O ônibus ficou uns quinze minutos parado. Do lado de fora uma mulher apertava incansavelmente o botão de uma máquina de refrigerantes, depois de muita insistência ela conseguiu a sua latinha, tinha o cabelo tingido e usava um salto alto comprado em algum brechó, eu fiquei secando os peitos dela, sempre tive tara por seios, nossa primeira fonte de prazer. Os dela eram fartos , daqueles de encher as mãos, fiquei pensando como deveriam ser os mamilos, rosados ou moreninhos? Aí ela percebeu que eu tava olhando e fez uma cara tão feia que me intimidou, o motorista deu a partida, só tinha eu e mais um estudante no ônibus.
(...)

André Luis Pontes, diário sem floreios, 1997.

O louco

O louco, enfurecido, correu
Todas as direções. O agudo grito
Megadecibélico do ultra-aflito
Todos planos cognitivos varreu.

O insano, irrefreável, destronou
Sua consciência do seu próprio império.
Tarefa hercúlea! E, sem maior mistério,
Irou-se, sorriu, chorou, acenou.

Não coube em si, de algo que não sabemos!
Ficou triste, corou, falou de Vênus…
Dividiu-se em múltiplas reflexões.

Abriu, por fim, os braços e, solene,
Pulverizou sua loucura perene.
Diluiu-se em todos nós, grãos milhões…


(Aos 15 de junho de 2003. Poema integrante do livreto "Viver e Devir", de 2004)

21.6.08

Mar de agora

....................aa Lígia Pinheiro.

- - -

Tento te trazer para perto
E vislumbro a dificuldade
Das relações, as represas de vergonha que temos.
Sorrio pra acalmar e sorvo seu olhar benevolente,
De pessoa em paz,
Barco sereno no mar de agora,
Como é bom saber caracterizar um high,
Saber boiar no ar e respirar na hora certa,
Sendo esta a hora do corpo,
For a da zona do raciocínio.

Te toco num abraço
E sinto toda a bênção de toda área tocada do teu corpo sorrir-me,
Sinto fluir a cura do toque saudável,
Do ser em paz.
Estou contigo e assim volto à infância,
Apenas porque assim é o mecanismo,
Regresso e sou aceito outra vez no ventre
E te aprovo e também redimo
Teu ser à luz da grande ordem
Que nos permite ter tudo que necessitamos
Para apenas acontecer em harmonia.

E é só.
Buscar muito mais que isso
É afogar-se em labirintos;
A volta completa é muito menor que imaginamos até agora,
Suspeito.
É só ser.
E é só.


(Aos 23 de janeiro de 2006)

19.6.08

A quimera que atravessou o céu depois do ocaso

Gravura de Marcello Grassmann


A bruma brilha sob luzes de mercúrio
Esquinas silenciam feito filhos deserdados
O tolo acompanha no assovio o badalo da igreja
Quatro faróis no meio fio
Quatro bêbados sentindo frio

A mulher imita a louca
E dança nua
Ofertando os seios ao luar

Ela diz:
-Vem me amar São Jorge!
(ou seria mamar?)
Traz pra mim o teu dragão
Vem aquecer o meu sono
Me dê tua mão
E descanse tua lança entre minhas coxas.

E tudo passa quando adormeço
E tudo esqueço quando desperto
É vago e estranho o que sinto

A noite foi
Ficou o inverno.

2002.

Liberto !

No átimo outrora esfalecido
Do meu questionável juízo
Encontro agora estabelecido
O fluir que nestes versos friso –
O acontecer que eternizo
Ao sorrir para o que há de ser.

No labirinto outrora untado
De cosmopolita negrume
Encontro agora pincelado
Nas tintas do anti-queixume
O retrato perfeito do nume
Que faz viver e faz morrer.

Liberto! De saber inconteste
A decorrência do meu ato –
“És as escolhas que fizeste
Pela liberdade de fato
Que possuis – És homem, não rato
Na peça épica do vir-a-ser”.


(Fernando de Noronha, 26 de novembro de 2006)

17.6.08

Cleiber Andrade

Diluído entre os tantos versos mineiros, surgiu-me esta poesia de Cleiber Andrade, velha guarda, versos amorosos, suaves e românticos, como convém à tradição de poetas-não-poetas, ventilando o bem-querer e encantando as moças - no caso a dona Irah.
O poema chama-se "Desejos de Cleibe Andrade para Irah", mais preciso impossível.

- - -

Peço-te, amor, para ficar guardado
com muito afeto, num dos livros meus,
como relíquia, mimo requintado,
um cacho loiro dos cabelos teus.

E, se amanhã a vista me faltar,
(nessa desgraça atroz, valha-me Deus!)
cego, serei feliz só em tocar
um cacho loiro dos cabelos teus.

E se, mendigo, eu for pedir esmola
à tua porta por amor de Deus,
dá para uma alma que não se consola
um cacho loiro dos cabelos teus.

E, na agonia, quando tudo findo,
cair a névoa sobre os olhos meus,
com os lábios frios, tremerei pedindo
um cacho loiro dos cabelos teus.

Quando eu morrer, na minha sepultura,
(amada, atende estes pedidos meus!)
quero na cruz de pedra, inerte e dura,
um cacho loiro dos cabelos teus.


(Cleiber Andrade, MG, data desconhecida)

10.6.08

André Luis

André Luis é uma figura ímpar que parece saída de algum livro, o conheci no segundo grau, tinha eu então quinze anos e ele quatorze, convivemos juntos por um ano, ele é daquelas pessoas que basta uma conversa de meia hora para te deixar sem chão. Desses caras que te fazem crescer ,que vêem pra te sacudir, te pôr do avesso e partem te deixando cheio de questionamentos, um cara que aos quatorze anos dizia coisas que só hoje entendo. As últimas notícias que tive dele datam de uns quatro anos atrás, continuava sua vida de andarilho, tinha então 22 anos e trabalhava como barman em Montevidéu.
O texto abaixo faz parte do seu “diário sem floreios”, foram os primeiros textos que ele me enviou, escritos quando ele tinha uns dezesseis anos.
Como ele dizia “literatura de baixo calão”, algo como um cruzamento juvenil de Dalton Trevisan e Bukowski (autores que na época acho que ele nem conhecia).
Raiva juvenil numa prosa seca e de cortes bruscos.


Reveillon
Como um sorriso de dentes podres no horário nobre da tv. O incômodo. Algo que fedia no meio da aparente alegria do plástico brilhante e colorido. Toda espécie de párias, gente feia e solitária, bêbados e moleques de quinze anos balançando seus pintos murchos pra posar de iconoclastas. Mendigos cantando canções de verdade. Blues que vencia toda merda que era cuspida pelos autofalantes. Nem tudo era sol, algo de podre pairava no ar, algo que tentavam empurrar pra baixo do tapete. Voltariam pra casa trêbados, tocariam uma punheta ou chorariam, e alguns deles talvez dessem uma foda mal-dada e adormeceriam em seguida. E depois voltariam aos horários de empregados, ao esquecimento e ao sofrimento silencioso. Enquanto isso algum outro subiria num prédio bem alto, olharia para longe e soltaria uma gargalhada. Ou empurraria as paredes para o mais longe que pudesse e ergueria a cabeça na tentativa de engolir o máximo de ar que nos pulmões coubesse.


André Luis Pontes, diário sem floreios, 1997.

9.6.08

Flávia Motta

Trago às páginas do Presença a poesia de Flávia Motta, poeta de diálogo intenso e uma poesia tenra e repleta de recursos, permeada de nuances do dia (chuva caindo, tortas de limão, amores doces e vis - e "mis", se 1.000 tivesse plural!) e rimas abertamente gostosas e classudas, distantes das rimas fáceis que às tantas vemos por aí.

Como seria uma compra do mês, nos versos da Flávia ?
Como seria a descrição enciumada e forte da presença de outra fêmea ?
Confira em Cum Versare, o blog-marfim da moça (palavrasquecaminham.blogspot.com, apenas porque sou um ignorante em html).

Abaixo, o poema "T", um pequeno terremoto muito belo.

- - -

...............................A
..............................nu
.............................tua
...........................te leio
........................te escuto
.................tonta te remonto
.............é no corpo que te leio
........leio-te na ponta desta língua
..estudo a arquitetura do teu silencio
.......me desmonto em tuas letras
.........e me ofereço em sacrifício
.............................a ti
............como jogo de montar
.....teu quebra cabeça imaginário
.............teu tangram tátil
........................me tens
.........................te dou
............................tua
.............................tu
.............................T


(Flávia Motta, poema postado no blog "Cum Versare" em 13 de maio de 2008)

8.6.08

Recortes do tempo - parte V

Segue a parte final da reflexão épica "Recortes do tempo", do livreto homônimo de André Bentes. Cópias do livreto podem ser adquiridas mediante contato com o Presença.
Cerveja gelada e poesia de calçada !

- - -

Eu que aprendi com o passar da idade
que os acontecimentos reduzem-se a isso
Aquilo que eu vejo e o que quiser que eu sinta
Confesso cabisbaixo que não mais desejo
Sou cúmplice da vida ao dobrar esquinas

E sento nesse banco já extasiado
Reduzo um universo a mistério e química
E eis que o processo está encadeado
O que já foi sagrado agora se trafica
Os pajés pós-modernos até que cobram caro
O aroma da floresta cabe a quem respira

Em volta, espantado, sou tudo que vejo
Reflito-me na sombra de uma prostituta
Sou parte do processo e só me apercebo
Ao ver que a sua porta ainda esconde a rua

Um ato de coragem se tornou sorrir
Revoluciono o mundo pelas gargalhadas
Que dão-me o poder de criar imagens
algumas são sentidas, outras inventadas

Mas sinto certa pena dos que ainda esperam
Ao ansiar à morte que lhes traga vida
Espero estar bem morto quando enterrado
Sendo desnecessário uma despedida

O homem pensa por fazer história
É graças à memória que há o antigo
Sendo graças ao tempo necessário o mito
Deixando impressionado o que ainda é vivo.


(André Bentes, do livreto "Recortes do tempo")

7.6.08

Recortes do tempo - parte IV

De nada vale pôr-me à tarefa
De resgatar o que não mais existe
Se houve amor agora espero trevas
Percebo as coisas em sua medida

Pois nunca eu pus-me a andar
Sem pôr à prova o que dilacera
Jamais alguém viveu sem não matar
A pelo menos os eus que supera

Que é o tempo sem eu que destruo
As hastes pedidas pelo esquecimento?
Faço de minh’alma o meu próprio muro
Que pulo sorrateiro a cada momento


(André Bentes, do livreto Recortes do tempo)

6.6.08

Recortes do tempo - parte III

Incomodado estou pela existência
Por onde as coisas do silêncio falam
Vendo o processo do tempo me calo
Meio acuado a tanta violência

E tange o ranço híbrido que tive
Ao deslocar-me lúcido ao eterno
Herança minha deste instante terno
Ligado ao medo intenso de quem vive

Mas ao raiar a luz um pensamento
Sou obrigado a pôr-me logo ativo
Por ter certeza daquilo que crio

Como estivesse sob encantamento
Sendo por isso que ainda jogo dados
Incomodado por lentes de aumento


(André Bentes, do livreto Recortes do tempo)

4.6.08

Hércules

Miopizado pelas cifras,
Enrijecido pelo terno,
Acinzentado pelo monóxido,
Os lírios sem água,
Vivendo pretéritos,
Tetanizados os músculos
Pelo ferro das canetas,
Assinando os contratos,
Mineralizados os rins
Pela areia das lagostas,
Lances liquefeitos
Em negócios suspeitos,
Respostas polidas
De raivas contidas,
Em cada célula semi-seca
Semi-sem-voz garganta,
Aos berros nos bancos,
Apenas cifras e somas,
Comidas prontas,
Zeros à direita
Em inequívocas contas
Suiças setentrionais,
Salgadas e lacerantes,
Lanhando os mornos ventres
Dos brios tropicais.

Um épico. De aço.
Boca-hífen
No rosto branco.
Na manga de linho
O ás inequívoco
Da visita engatilhada:
A auto-bala certeira
Na cabeça arredondada.


(Macaé, aos 06 de junho de 2008)

3.6.08

Recortes do tempo - parte II

O que até aqui fora real
Jamais mostrado foi em prosa ou verso
Pois a estes cabe sempre o inverso
Posto que jogam ao vento um ideal

Prostrado está enquanto isso
O riso do ser ante a linguagem
Que faz do pensamento alguma imagem
Incapaz de retratar qualquer ser vivo

E no dorso dos motivos inventados
Impõem-se cavaleiros com as espadas
Fazendo jorrar sangue pelos prados

Trazendo um desejo de nada
Ao pobre do ser soterrado
Que roga... um copo de água


(Andre Bentes, do livreto "Recortes do tempo")