25.12.11

Faina milenar

A pira racional
De nascença grega
E juventude cartesiana
Galgou de ferramenta
A ditadura.

O misticismo oriental
De abnegada entrega
E contemplação espartana
Falha em seu tento
De representar cura.

Análise e síntese, separadas,
Ostentam suas bandeiras fracassadas.



Aos 06 de agosto de 2006.

23.10.11

Ancestrais

Fala rapeize, e aí vamos tomar uma cerveja esta semana ?

Este poema não é inédito aqui mas queria (re)compartilhá-lo, continua atual. Abraços --


Ancestrais

Canto mesmerizante do vagar,
A estrada une pontos,
Desvela os ancestrais milionares;
O primeiro medo surgiu
Antes do advento da memória,
Há incontáveis séculos
Nadando em um mar revolto e –
No topo de cada uma das ondas insanas
A visão noturna de mil baleias,
Todas de olhos amarelos brilhantes,
Faróis no impenetrável da noite.

Em Tokyo infinitos insetos
Se apinham do lado direito
Da escada rolante;
As lágrimas traçando o primeiro caminho
No rosto cansado,
Defronte ao cânion rubro-dourado,
Nasceu o primogênito da paz pela força,
Do amargo-arsênico
Da dor pela palavra.

Polegar articulado, macaco moderno,
Navalha em punho
Faço a barba com a mão esquerda ligeiramente levantada,
Cacoete ainda
Da música do monolito negro
E choro gotas de unificação.
Em Beijing não há egos,
Estarreço diante do Grande Irmão;
Faça o quanto antes
As ansiosas contas
Com seu próprio passado.


(Beijing, aos 5 de fevereiro de 2010)

3.9.11

Ao amigo em desassossego

- Essa tosse ainda te mata.
Deixando sempre pr'amanhã.
- Os anos vieram. Quem diria?
E quando não der mais; pode ser cicuta, chumbinho, uma quantidade excessiva de pó, a cabeça dentro do forno . Revólver e corte no pulso não, sangue demais.
E o negócio é correr pra chegar. Ter uma boa desculpa pro atraso, e o estoque já anda escasso. São batidas na porta gelando o corpo, o susto quando o telefone toca. O bom-dia e o sorriso já saindo aos trancos. O cansaço e aquela vontade de parar e deitar-se sobre a calçada.
A meia-vida , não, muito menos que isso. Tuas mãos atrofiando, um décimo de homem, já não sente o chão. O sono suarento. De tempos em tempos alguma coisa lá no fundo, que vem de outras eras, de um ser ainda primário , antes da fala, de pele curtida ao sol e pisadas fundas sobre a relva, de cada coisa no seu lugar, de não se diferenciar, comunhão com os dias. Instinto, cheiro, sabor , reconhecimento das coisas, mas dura pouco , se dissipa ,vira névoa, ainda tenta agarrar, mas já se foi...Estás de volta, só, com essas sensações ainda vivas, não sabe se sonho, se memória, e as palavras não alcançam, tenta e sente se distanciar, e novamente se perde. Já é o sol de agora, do que não se adia, do apito da fábrica, da buzina incessante, do zunir dos teus tímpanos exaustos, do teu irmão morrendo endividado em algum cu de mundo. E você corre , finge que é empurrado, segue o bonde, engrossa o coro, se enfia na manada.
- Vai , pega, pega. Corre-cão-patético tentando morder o próprio rabo.
Teu choro sem ouvidos, teu ontem de amarras, aceitação do que é ralo e embaçado. A nau sem rumo, o rodopio febril. O tombo seco.
E estarei lá, mas não para gargalhar e te fazer corar, ser mais um pra te chutar quando estiver caído, te estenderei a mão para que se ponha de pé e volte a caminhar ao meu lado. Não terá que dizer nada , e saberá disso.


André Luis Pontes, sem data.

18.8.11

Exposição Fragmentos


A festa do coletivo de artes visuais Overlei desse mês traz a exposição Fragmentos, com obras de:

Beatriz Jorge - Renata Oliveira - Pimpas - Edu Barreto - Henrique Smith - Iskor - Victor Meira - Aron Aguiar - William Galdino - Philippe Bacana.

No palco, o samba de Pra que Lado fica Meca recebe os primeiros convidados e dá um mood pro rock do Coronel Pacheco e pro soul-funk do Charlie e os Marretas.

Dia 20 de Agosto às 22:30.

Centro Cultural Rio Verde
Rua Belmiro Braga, 181, Vila Madalena - São Paulo.

http://overlei.blogspot.com/

6.8.11

Livro à Bolonhesa


2ª edição do evento Livro à Bolonhesa, onde jovens, críticos, artistas, professores e atores de políticas públicas se encontram para discutir temas em pauta no universo dos livros e da cultura.

18h - Oficina

"Fanzine - construção de publicações alternativas impressas", com Germano Weiss & William Galdino ( Editora Cozinha Experimental & Blog Presença)

19h - Lançamento
"A revolta das Vogais” (ed. Vieira & Lent), Solano Guedes de Miranda

19h30 - Debate
"Que livro a escola tem?" com Solano Guedes de Miranda (artista multilinguagens), Marcelo Reis de Mello (editor da Cozinha Experimental, professor de português e escritor), Ramon Mello (poeta, agente literário e articulador cultural).

Mediação e curadoria: Heyk

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Quarta 10 de Agosto de 2011
18:00 - 21:00

SESC - Tijuca
Barão de Mesquita, 539, Tijuca- Rio de Janeiro

21.7.11

Olho Navalha

.........................................................Fotografia de Herbert List

O que é de dentro?
O que é de fora?
Tudo se desgarra.
Tudo se descola.

Um ponto cerzido
no mapa da alma.

Um corte preciso
nas catedrais da memória.


Os aviões de plástico aterrisam sobre o chão de chumbo
enquanto os cães aeroplanos
decolam rumo aos degraus do sem-fim.

2010

18.5.11

Uma flor

  Para Cassia

Vem de longe tua voz me tocando os ouvidos, vem de além do sul. Já é noite e tua imagem me traz um mundo de outras imagens, se somando aos cheiros e ao esbarrar sutil das costas de tuas mãos. Um sorriso aberto, sem exagero, sem ser pouco. Teus olhos também sorrindo, cor fugidia, camaleão brilhante. Passas sob a sombra das copas, tens pressa, as horas são poucas, poucas para ti e há tanto a fazer, tantos são os lugares , as pessoas, outras paisagens, pequenas diferenças. Outros mares, outras janelas sobre velhas calçadas, iluminadas por uma mesma lua. É verão, amanhece, e te encantam as tantas possibilidades, o olhar para um outro lado, o caminho até então não percebido, e te esquece das horas certas. Como resistir a grama verde, ao céu azul, ao mar tão calmo? Mas te chamam, já é hora, mais uma vez desconfia dos ponteiros , nunca confiaste neles. O tempo não se conta, os relógios mentem. Pequenos brincos, tuas costas nuas , o olhar atento e tuas mãos a dobrar pequenos papéis. As luzes ainda acesas, e dormes feito criança. Tens o meu beijo enternecido. É outro dia. Os olhos que se abrem assustados, naquele instante em que redescobres o mundo, o sem-chão dos primeiros segundos do despertar. E sem saber me entregas o maior dos presentes, o primeiro sorriso da manhã. Há uma casa ensolarada de portas abertas, que dou o nome de Teu grande coração, e se expande em todas as direções, morada que se move, cheia de afetos, de flores de bom cheiro, de brisas que rejuvenescem. E chega o fim da tarde. A dúvida entre qual sandália calçar, se azul ou amarelo, qual prato pedir... Adentramos outra noite, de mãos dadas, te trago pra mais perto, envolta num abraço. Então me calo, e em silêncio percebo que tudo está onde deveria.