29.9.08

Irmão

Um trevo à nossa amizade,
Meu melhor amigo,
A coluna zero
No terreno bélico
Do que já nascido somos,
Os sóis que juntos vimos,
Eles juntos, nós loucos,
Simultâneos todos,
Alheios aos tomos
Subcutâneos das regras,
Um trevo singelo,
Um aperto de mão,
Um abraço,
Uma reza no compasso de sempre,
De uma viagem,
Um filme, um dia de chuva
Dos copos afogando
Nossas famílias falhas,
Que parece que todas falham
Grosseiramente,
No incapaz global
De acolher ao invés de dar dinheiro.

Meu grande amigo
Pra sempre,

Seu irmão.


(Aos 22 de setembro de 2008)

25.9.08

Reino dos números

São três e quinze,
cinco, nove, doze, treze, trinta e três, quarenta e dois e cinquenta e nove,
que na mega-sena há sempre
números próximos,
onzes de setembro,
”quinhentos reais na conta, senhor”,
três a zero, dois a um e zero a zero,
que empates sempre vão existir,
duas colheres de sopa,
trigésima reedição,
raiz de dois, irracional,
trinta anos,
alguns dias de férias,
coca dois litros,
quinze do sete de setenta e oito,
dia em que nasci
no reino dos números.


(Aos 21 de setembro de 2008)

22.9.08

Setembro ou Nada

Coronel Aureliano, pintura de Fábio Portugal.


Setembro traz consigo a primavera,"expulsando o inverno". Uma nova estação carregada deste desejo de tudo abraçar, na "pressa típica dos nervos sensíveis" dos que admiram e anseiam pela calma e experiência que se encontra na velhice. Velhice dos que trazem a marca do tempo sobre a pele, e que num dia de cansaço suspiram ofegantes: Não foi em vão, tudo valeu a pena, visto que alma não era pequena.A vida na sua totalidade. Setembro e tudo mais.Este poema faz parte do livro levante que o Vínicius lançou em 2007 no bom e velho esquema do faça você mesmo . Mas a tiragem foi bastante reduzida, então já deixo registrado aqui o meu pedido por uma segunda edição. Ouviu Vinicius?

Setembro ou Nada

O que quero
É terminar todos os dias cansado
Porque fiz tudo
O que é preciso fazer
Pra não morrer num momento de tédio.

E saber de olhos fechados
Que de alguma forma estranha
Tenho as melhores pessoas
Do mundo
Por perto.

O que eu quero
É dizer as palavras que
Eu
Tenho por dentro
E ouvir mensagens quaisquer
Que possam me estimular o desprezo
E a devoção.

É morrer
Num outro dia qualquer
Mas que o seja!

Um dia qualquer.


Quero ter a pressa típica dos nervos sensíveis
e desejar a calma senil dos avós;

Quero ironia e astúcia de sobra
pra que ninguém reclame oportunidades
perdidas
e, se preciso,
calamidades que lembrem
o que é preciso ser lembrado.

Quero vitórias que não perdurem
Porque só assim os erros não significarão
derrotas.

Quero tristeza, sofrimento e controle
Pra discernir e celebrar os prazeres e liberdades.

Quero tanto
Que descobri por acaso
Que saber o que se quer
Não é tão difícil como parece;

Difícil, é viver com isso.

Vinicius Perenha,2007.

Presença

aos amigos Vinícius e William, este quase-poema
com amizade e adolescência !
abraços.

* * *

Este poema
Vai para meus amigos
William e Vinícius
Meus poetas prediletos,
Versos nem sempre retos,
Nem sempre inocentes,
Mas sempre bêbados,
Sempre sementes
De uma realidade que é
Nossa Presença,
Discutindo se somos astros
Ou zoroastros;
Se isto pode ser considerado um poema
Então somos ricos, meus irmãos!
Seremos violentos em nossa pretensão
De sermos sim
Mais que um não,
Mais que meio e menos que separados ?


(Macaé, aos 21 de setembro de 2008)

19.9.08

Instruções.doc

Ésquilo, aquarela de Fábio Portugal


Um poema do Isaac retirado do Absinto, livreto em parceria com o Vinicius lançado em 2006.

A ilustração acima é do Fábio Portugal, amigo da escola de belas artes que além de ilustrador é pintor, escultor, designer, fotógrafo e poeta.

Para conferir outros trabalhos do Fábio acesse:http://www.fabioportugal.com/


Instruções.doc

Não sê Prometeu
Acorrentado a teus desejos,
Xeque-mateia teu ego
E seus sutis ensejos,
Enceta a compreensão
Do teu fundo interior
E salva o arquivo
No teu eu-computador

Isaac Frederico, do livreto Absinto, setembro de 2006.

Evolução

O abat-jour virou abajur, assim.
Fecho Éclair amanheceu fechecler, brutamente.
De mansinho, cinemático virou cinema,
Que virou cine
(Que em breve vira mero I …).
A modernidade
Simplificou o vocabulário.

O amor é o contrário.
Virou namoro,
Esticou pra namesmamorada,
Embarrigou de gêmeos,
Dois filhotes no quintal.


(Poema interante do livreto "Viver e Devir", aos 12 de março de 2003)

16.9.08

Breubraillebrilho

..Ciclistas, pintura de Iberê Camargo.



Palma passeando pela pele
deslizando pelo muro.
Tingindo
talhando
escrevendo no escuro.

Ponta de prego cavando sulcos.

Mão afundando no inverso
água em movimento

imagem fragmentada.

Carne acesa
...........a fogo
a ferro.

Pupila-paisagem dilatada
na face atenta
do homo faber

que habita o parapeito
da janela escancarada.

Agosto de 2008.

2.9.08

Márcia Maia

Aloha Presença !

Após algum tempo afastado devido a uma carga excessiva de trabalho, retorno às boas esferas destes posts e deste mundo da poesia "nossa".
Faz umas semanas andei fuçando alguns blogs e me deparei com esta grata surpresa que é a poesia de Márcia Maia.
Troquei um e-mail com a moça, uma pernambucana muito simpática, que me autorizou a postar aqui o soneto "dança comigo?".
O soneto é profissa, pra fazer um comentário absolutamente insuficiente. As aliterações embalam o poema sem os apelos fáceis da previsibilidade que este recurso geralmente carrega.
O decassílabo é uma pequena obra prima e segue abaixo; o blog da moça já se encontra nos favoritos deste espaço e é carregado de bons poemas, além do caminho das pedras para adquirir os livros que ela já publicou.

Cerveja gelada à tarde descompromissada !

- - -

que importa no compasso além do passo
se passo-a-passo passo além da porta
que encerra qual comporta o pouco espaço
e em marca-passo irmana passo e aorta -

retorta que destila o descompasso
do corpo quando lasso se transporta
e à porta aporta feito em sangue e laço
(nenhum estardalhaço se suporta)

comporta antes ousar unir o traço
ao braço que no abraço outro conforta
e à dança desentorta em novo passo

um passo e outro passo o chão recorta
rompendo o lacre à porta e ao compasso
ao qual além do passo nada importa


(Márcia Maia)