25.8.08

Rumo ao Chile

Uma letra em parceria com o Rafael, dos tempos da Geração Perdida, banda folk-punk que durou uns seis meses e fez um único show. Olhando hoje me parece bastante ingênua, mas tem seu mérito pela sinceridade dos versos (ingênuo é anagrama de genuíno). Familiar para todos aqueles que em algum momento de suas vidas foram tocados pelo espírito on the road , pelo desejo de outros rumos , no anseio de se encontrarem. Relendo essa letra pensei no personagem Supertramp do filme into the wild, pensei em Dylan e suas fugas inventadas, e também nos sábios-loucos-viajantes que nos encantaram nas leituras da nossa primeira juventude, Rimbaud, Jack London, Cassady, Kerouac...
Penso em André Luis Pontes o louco andarilho, e em todos aqueles que de alguma forma buscaram uma possibilidade de desvio, que desejaram outros caminhos pra fora dos trilhos.
A mudança é o caminho, mudar de lugar ou mudar a si mesmo .
Sempre aprendizes.



Eu não pertenço a esses lindos dias de sol
Eu vim do negro sujo das esquinas
Eu não espero o abraço triste da minha mãe
nem o beijo da minha menina

Eu admiro mais os loucos
que essa gente vazia
que enfeitam suas vidas
com essas falsas alegrias
Não posso mais ficar aqui a viver nessa incerteza
não suporto mais o riso da tua indiferença
Quantas lágrimas precisam os meus olhos derramar
pra que um dia eles percebam o quanto vale o meu sonhar?

Eu vou cair nessa estrada ver se encontro a minha vida
vou jogar de vez nessa parada já que não tem mais saída
E quando tudo tiver fim

E quando tudo tiver fim

Eu vou fazer uma canção pra mim

Rafael Elfe e William Galdino, 2000.

18.8.08

Nado
























De um lábio ao outro

eflúvio.

Tudo tempestade

Com uma mão bate

com a outra abre

com a boca chama.

13.8.08

Saudade

Fala galera do Presença... Minhas desculpas por andar tão ausente; estou viajando e o tempo me é escasso para escrever e postar.
Mas lá vai um poema que escrevi de bate e pronto na tela de postagem... Valeu!

Queria andar por ruas - viélas
De mãos contigo dadas
Quimeras...
Posto que "solo" ando
Buscando em vão a felicidade
Qual é inacecível pela distância
E que devora-me em forma de ância

Quanto amor agora brota de meu peito
Que fora por fraqueza zombeteiro
Por não saber
Que um homem só
É uma nau sem remo
É laborar com nó
É um verão ameno

E tendo a certeza da alegria
Que será rever-te um dia
Sinto-me forte como a pedra
Qual "single" piso e que é rua
Onde de mãos talingadas andaremos
Conversando amenidades
Observados pela lua

*Que seja forte enquanto dure
Posto que é sincero
Que seja saudável
Posto que nos faz bem
Que seja doce, puro e cristalino
Como o açucar do seu bejo
Posto que lambuza-me por inteiro

E quando a noite me cai
De saudade me dopo
Entorpecendo o coração
**Que alegre "ma non troppo"
De pensamentos de amor
De saudades - dissabor.

Fábio dos Santos, 13 de agosto de 2008 - Florença - Itália
*baseado naquele soneto, desculaps por não recordar o nome
** Com açucar com afeto - Chico Buarque

9.8.08

Música pretérita


.............Com o movimento do mundo no peito, técnica mista s/papel,2007.

Música pretérita
.........................................'""Volta música pretérita ao bojo de tua flauta"
.......................................................................... Ruy Espinheira Filho
Há algo que não cala
um pouco que no fundo ainda fala
Sem mercúrio que sare.
Um toque
um resquício
um algo lá
que desaba numa noite qualquer
numa dose a mais
num dia parado
no caminho não desviado.

Uma lembrança que arranha
e se faz contra a vontade.
O último nó da sutura
que se esforça pra rebentar.
Há dias secos de nunca mais
de trazer engasgos
e entrar sem bater.
Não há sono que acalme.
Não há fuga que apague.
Sensação de mundo longe
de perguntar pra quê
Por quê?
Aqui ou ali?

E do impossível
do desejado
o mais dolorido.
Do inviável
mais sentido por assim ser.
Por ser não sendo
Pelo não ter sido.
Posto no devido
findo.

Mas há ainda um sim
que de repente te surpreende.
O outro dia
o lado esquecido há tanto
que num estalo ressurge.
Transparente
límpido.

Dois pés firmes sobre o chão
e os braços que se abrem a tudo.

E assim vamos em frente
com nossas mochilas às costas.
Carregando a matéria do tempo e da vida.

Agosto de 2008.

5.8.08

Heyk Pimenta

Gravura de Renina Katz



No clímax da obra vou cair no
....chãode duro e doido me
....contorcer fazendo cara de
....famintoc


Porque a raiva corta
....a fome ajuda
desenho mal feito de
....pastel acalma

Mas só van faltando um ou dois lugares
....Salva
Jesus nada


Trecho do livro Ladrão da Matriz, recitado recentemente num sarau na casa do poeta-marujo Isaac.

2.8.08

Hemisférios

....................................................................Ivan Serpa


Me aproximo de mim
.... a rua e
o sol vibram nos meus passos.

Sinto me como um que a tudo abraçaria.

Lua branca de verão

vontade incontrolável de dançar
até que as pernas peçam descanso.

De volta ao carrossel
.... que me tonteia os sentidos
paro e sigo
o corpo permanece no giro
e os olhos turvos
.... de todas as cores que se somam até o branco.

Agarro-me numa beirada de sorriso.
....Já não estou lá , já não estou aqui.
Tudo se move

e vagam as memórias em vôos astronáuticos.

Do livro Fragmentos do imaginário, previsto pra ser lançado ainda este mês.

O cerne

Empreendeu, por fim,
a grande viagem
Ao ponto mais austral de seu ser,
Suas experiências passadas mais traumáticas
(As boas e as ruins)
Lanhando-lhe o equilíbrio.
A náusea surda
De ascender ao cerne,
Que neste plano
Quem pode discernir
O dentro do fora?
“É um soco no estômago
Descobrir suas lacunas”, pensou
E a revelação última
Quando descobriu
Em Deus e no diabo
A mesma e única pessoa.
Ali seu limite.
“Uma coisa é a verdade,
Outra coisa é o que se quer enxergar”


(Aos 28 de janeiro de 2006, poema integrante do tomo IV "Jesus o nazareno", do livro "Acontecente")