24.9.23

Perdão


Quisera ver-te em suplício

mas logo me dou conta

– e, de tudo, logo isso! – 

    que tu és eu.

Sou eu quem me amedronta.

 

Quisera acusar-te de tudo.

Indiferente, abrasiva.

Mas estaria aí, sobretudo,

– porque quem é-te a ti sou eu – 

 sendo eu mesmo evasiva.

 

Quisera punir-te inteiro,

erradicar tuas sementes – 

Mas é o mesmo roteiro:

punir-me-ia. Eu te sou,

da medula até os dentes.

 

Quisera aviltar-te a honra.

O desonrado seria eu.

Viveria à tua sombra

porque nós somos a mesma coisa:

Tu és, em larga escala, eu.

 

Quisera, finalmente, teu perdão,

tão desgraçado me senti,

destruído sem concessão

– e perdoavas-me! Logo eu!

Minha cura se fazia em ti.



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