6.5.08

Brisas

Pintura de Jack B. Yeats


Andei relendo alguns poemas que o Rafael me enviou há algum tempo e me deparei com este, brisas, um poema carregado de sensações e vivências comuns a todos nós. Um poema de passagens e ausências mas também com espaço para “o centeio bom” em meio ao “trigo estragado”. Brisa em dias de pés no chão.

“não somos mais que brisas! Tênues, estúpidas e frívolas brisas...”



Vão-se as coisas
palavras e suas pessoas
nelas encarnadas
nada resta
e vão apagar a lousa
a palavra amor escrita às pressas
deverá morrer no verde escuro
e os teus olhos amor, que absurdo!
pularão para fora do tempo
onde estiveram tão atentos
agora sós
tão cabisbaixos dentro em mim
Vão-se as coisas
os carros alegóricos - fantasmas d´uma vida
passagens solitárias nas ruas daquele filme
você deletará os e-mails,
apagará as mensagens,
e as fotografias digitais
que pesavam tua caixa de entrada
mas existe o centeio bom e o trigo estragado
para acelerar a perda, aquela perda estranha
que não se sente e só nos resta o ausente
a falta que parece estar doente
bebericando alguma sopa rala
falseando os dentes,
e os leões de nossa culpa
sob o castanho sol africano
ai, meu bem... não somos mais que brisas!
Tênues, estúpidas e frívolas brisas...


R. Elfe, sem data.

Um comentário:

FlaM disse...

...e alguns tufões...

Como esse tinha me passado? (Jung explica: hoje é que ando à beira de apagar emais, deletar, excluir... há dias certos para os poemas certos...)