7.4.09

Gabardina

Sorvemos de gole inteiro
O cálice desses ventos noturnos
Visitando, profundos,
os goles e nós,
Ávidos de viver e partir,
Repartir e ir;

Não quero mais acordar sozinho.
Somos o quintal escuro desta casa
quando no escuro pensamos,
Escurecemos nosso “quando?”
nos pequenos detalhes
que vão passando desapercebidos,
Assoreando nosso fluxo,
Conjugando meus e teus,
Assassinando vidas com calculadoras
e julgamentos esquemáticos,
Presos em nossos próprios umbigos,
Na cicuta de nossas rotinas.

Não quero mais ser essa gabardina
De 30 anos, memórias falhas,
Ter peso de passado,
Películas de um futuro promissor,
Uma carcaça escorada
nos encontros desmarcados com todos,
Votando no candidato eu,
Tento após tento,
Uma carcaça escorada e um copo de rum,
Sempre isento
no quintal escuro dos ventos noturnos,
Sabendo, no fundo,
Um dia acordar sozinho,
Expulso,
como nascendo.


(Aos 5 de abril de 2009)

2 comentários:

Rachel Souza disse...

Parece biográfico, creio que seja."Na cicuta de nossas rotinas". Gostei tanto disso. Seu rabisco tem gosto de Tom Waits entoando "Closing time" ou talvez "Diamonds and gold", ou um parágrafo de um livro do Henry miller, ou sei lá. É solitário e resolvido,ainda que insatisfeito.

william galdino disse...

Esta avidez de partir é o sangue pulsando, o desejo irrefreável do algo mais.
E quando o passado é peso que atrapalha, é hora de trocar de pele.

muito bom isaac

E pra acompanhar vou com a Rachel ao som de Tom Waits e com um whisky nas mãos.
abração.