3.5.09


A sede do leito, esse meu peito
onde muito vago ajeito
e ponho-me a ver-te navegar.

Oh vida minha, pequena.
Nessa e noutras, tão cheia
dái-nos a brisa na areia,
leva estes brincos pro mar;

e neste vem e vai da lua
onde a maré verde recua
cala este braço de vento
traz os fantasmas do tempo
e os que há muito sumiram por lá.

Conta-nos que há o mistério da ida,
já que há outro na partida,
sempre por perto de chegar.

E que nenhuma carta avisa
e vai voando, rouba-me a saliva
e só, me sáio sem nem um i ou a.

Me conta como pará-lo agora
antes que a fúria da memória
devore do porto este corpo
e tudo que a contra-gosto
não o quiser acompanhar.

Oh vida, minha pequena.
Não vejo em nada a desgraça
mas a ventura é sentida
e eu já sem prazer na lida
ouço o mar em cuspidas
teu nome nos vir lembrar.

Então melhor é mergulhar com tudo
e jamais ter outro mais fundo
corpo, barco, mundo!
Nenhum naufrágio mais surdo
que este meu lance profundo
para feliz te abraçar.

Um comentário:

Luna disse...

engoliu-me.