1.6.09

Familiar

Esse, meus caros, é um texto que acabo de buscar no Maná Zinabre, espaço coletivo de idéias das mais absurdas, por assim dizer, que aqui, imagino, dispensa maiores apresentações. Texto de estrutura óssea e conteúdo veloz, ou vice-versa; merece não pouco caso, acho eu.

O autor se chama Berimba de Jesus e, entre outros, pode ser visto nas páginas do Maná.
http://manazinabre.blogspot.com/
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Familiar


Meu pai tomou veneno de rato, enrolou a corda no pescoço e se matou.
Pra nós: só arroz.
Minha tia cansada do कासमेंतो, traiu meu tio com o vizinho, que deu o talento.
Se apaixonou.
Saiu de casa.
Desgraça é que nem banana, vem em penca. Apanhou na cara. Recebeu dois tiros na cabeça. Não morreu. Ficou triste.
Titio passou a ser freqüentador de boteco.
Meu irmão certinho que era conheceu a vida loca.
Eu conheci a pedra.
Minha mãe enlouqueceu.
De tudo que tínhamos um pouco, nada sobrou. Minha família deixou de ser.
Ficou osso.
Meu irmão se tornou periculoso, matou, roubou, estrupou…Tanto fez que mereceu, três tiros dados à gosto.
Foi pro saco.
Eu, bonitinha e rechonchudinha, fiquei só costela.
Rodei mais que nota de um real.
Engravidei. Enfiei citoteque garganta abaixo. Vagina acima. Mais do que o indicado. Minha vida passou por um fio.
O que não queria, era procriar.
Dar a vida é uma parada muito foda.
Tentei abortar diversas vezes.
Nenhuma deu certo.
O moleque nasceu. Perfeito. Dorme tranqüilo lá no berço, despreocupado. Tem a cara do meu irmão. Não o amo e quero matá-lo. Pode parecer mentira.
Chega de dar vida.


Publicado no blog-revista Maná Zinabre, aos 27 de maio de 2009.

Um comentário:

william galdino disse...

Já tinha lido o texto lá no maná, tiro a queima roupa, seco e direto.