11.2.10

O cobre das pombas

O sol não podia mais
comia a gordura rápida
do alto planeta inteiro

uma calculadora praguejava
seus salários que não davam conta
na mesma sombra
onde passarinhos de capuz
limpam um jardim antigo

cavadores se fantasiam
e correm tubos de uma névoa grossa
sob o chão macio

guardas e xamãs
brigam por tabaco
e seus olhos pintados
não veem o ninho de cobre
onde a videira canta seu mantra

pombas marcham sobre a grama
e os piolhos das penas
alimentam o terreno
eles são à prova de seus planos
e fazem desse barro branco
o palanque para seu silêncio



[03/02/2010, jardim da Casa de Rui Barbosa | Rio de Janeiro]

2 comentários:

william galdino disse...

Curti Heyk.
Este poema traz uma amarração com teu último poema postado aqui no blog ,obsevando e lidando com a paisagem do Rio, aliás esta amarração já vem de longe, há um tom que permeia teus versos postados aqui, numa outra cadência mais pausada e contemplativa.As duas últimas estrofes encerram o poema num ritmado sem arestas, conciso e burilado.

Heyk disse...

bem reparado, rapaz.
comecei talvez aqui a fazer e mostrar esse outro ritmo, diferente de uma coisa vomitatória que usei muito. Agora estou mais aí, nesse lugar do olhar de encantamento. Não não sei o que pensar sobre isso.

Valeu!