6.5.08

Limite

Virar para um lado
virar para o outro.

O atrito das costelas
o atrito das idéias.

Virar uma página
virar outra.
Um lado do disco
depois do outro.
Desejo de consolo,
desejo de calmaria.

De presente
suor e ranger de dentes.

Vira um copo
vira outro.

Buscar em todas as filosofias
Vasculhar no íntimo.
Pendurar fantasmas
Debater com o sórdido.

Esquiva-se
pra não se ver vestido do que recrimina.

O medo desce na penumbra
lento e decidido.

E ainda pode se levantar em fuga
ainda pode correr
(e quando não mais?).

E chorar e praguejar...

Ter os olhos vazados pela claridade.

A poeira baixando.

De repente
a realidade curvilínea que ofusca.

Encara o corpo nu no espelho.
Vira o rosto.
Procura por qualquer máscara que lhe cubra os olhos.

Dúvida
receio

Vontade de se encontrar
até se perder
e novamente...

E o desejo de afastar pro lado
o riso mesquinho que a cara pintada não esconde.

Ou a expressão débil que a fotografia lhe rouba.

E vê a pele cair
e tenta retê-la.


Os pés no trampolim
Momento sem desvio.


É a dor da mudança.
O salto no escuro.
Ponto culminante
onde não há recuo.

Abril de 2008.

4 comentários:

Guto Leite disse...

Gostei bastante, poeta! Sustenta-se, belas imagens, agudo. O ritmo entrecortado desenvolve o tom do poema. Grande abraço e muitos versos!

Priscila Milanez disse...

Exato:"O ouvido sobre o peito ausculta uma outra fala", sim.
Talvez a plenitude possa até ecoar no silêncio, passado o tempo exato das palavras que se precisam fazer ouvidas.Embora, ainda desconfie da possibilidade do ser pleno.
Continuo abdicando do meu silêncio por esse meio, e tu também pode abdicar do teu pra falar das minhas falas lá no blog também, sempre que quiser.

Gostei do jogo limítrofe das imagens em teu texto. Um jogo fronteiriço de contra/justaposições, os quais que jogamos com as coisas e pessoas.

Isaac Frederico disse...

isso é um tiro, rapaz.. vc devia responder criminalmente por esses versos !
"vontade de se encontrar até se perder - e novamente ... "
o sentimento urbano desse poema, desoladoramente urbano, humano, de inconseguir no cinza do limbo desse desespero...
vontade de amar temos de sobra, só não sabemos como.

FlaM disse...

e este
é chuva, penso
virei água

aos pingos
ao longo dos versos
chovi

– salto –
molhada
me despeço