25.9.09

Diário do México - 3

fotos enquanto jovem de Trotsky, que foi assassinado no México em 1940.


Altar para Frida Kahlo







.....Na metade do século XV os Aztecas, também conhecidos como mexica, formaram uma tríplice aliança com outros dois estados do Vale do México – Texcoco e Tlacopan, a fim de guerrearem contra Tlaxcala e Huejotzingo, estados a leste do vale. Data desta época a tradição de oferecerem os guerreiros aprisionados ao deus Huizilopochtli em verdadeiros sacrifícios em massa, a fim de manter a ascensão do sol dia após dia, como era crença corrente.
.....A tríplice aliança, ainda que não tenha conseguido subjugar Tlexcala, atingiu o controle sobre uma população estimada em 5 milhões de indígenas; o propósito do império, voltado inteiramente para a guerra e culto de seus deuses, era coletar tributos como jade, turquesa, algodão, papel, tabaco, borracha e cacau, necessários para a glorificação da elite asteca.

.....À ocasião da chegada de Hernán Cortés na costa do Golfo do México, em 1519, o imperador asteca era Moctezuma II Xocoyotzin, um personagem reflexivo e supersticioso que acreditou, de forma fatal, que Cortés poderia ser Quetzalcoátl, o deus-serpente de plumas. Desse encontro traumático surgiu o México moderno.

.....Os espanhóis foram bem recebidos nas comunidades de Zempoala e Quiahuiztlán, ressentidas pelo domínio azteca. Cortés montou então o assentamento de Villa Rica de La Vera Cruz, onde deixou 150 homens, e rumou para Tenochtitlán.

.....No dia 8 de novembro de 1519 Cortés adentrou Tenochtitlán com 6.000 aliados indígenas; a capital do império Azteca era então maior que qualquer cidade espanhola. Foram recebidos com luxo e pompa de deuses, por um Moctezuma ainda hesitante, a despeito dos relatos de barbaridades dos espanhóis com povos locais e da destruição de ídolos aztecas pelos espanhóis.

.....Com os espanhóis há cerca de 6 meses em Tenochtitlán, chegou em Villa Rica uma nova esquadra, enviada pela Espanha para prender Cortés; este deixou 140 homens em Tenochtitlán e rumou para Villa Rica, onde destroçou os homens enviados por Diego Velázquez, cujos sobreviventes se juntaram a ele. Cortés retornou então a Tenochtitlán com seu novo contingente e pôde se juntar aos homens que havia deixado, sendo logo em seguida presos, todos.

.....Encarcerado, Cortés convenceu Moctezuma a acalmar seu povo mas este foi logo assassinado, não se sabe se pelo povo descontente ou pelos próprios espanhóis. Os espanhóis foram varridos de Tenochtitlán em 30 de junho de 1520, quando muitas centenas de espanhóis e alguns milhares de indígenas aliados foram assassinados, no episódio cohecido como La Noche Triste.
Os espanhóis restantes se reagruparam em Tlexcala e prepararam o contra-golpe, contando desta vez com cerca de 100.000 aliados nativos, ressentidos pelo domínio azteca.

.....O imperador azteca então no poder era um dos sobrinhos de Moctezuma, o hoje herói nacional Cauthémoc que resistiu aos espanhóis mas foi mantido prisioneiro e torturado para que revelasse a locação de um suposto colossal tesouro azteca escondido.

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.....Chegamos à Cidade do México por volta das 0530hs após longa e cansativa rotina alfandegária, de imposição norte-americana em seu eterno pesadelo contra o consumo de drogas de seu próprio mercado interno, trocamos alguma plata e pegamos um taxi para o Hotel Bristol, na zona Rosa. Entre a apreensão pelo tenso momento da ida do aeroporto para o hotel, em virtude do medo do desconhecido, e alguns papos sobre a copa de 70, chegamos ao Bristol e ficamos aliviados pelo quarto limpo e agradável, após a noite de cansaço do vôo.

.....Arrumamos as coisas e após algumas dúvidas sobre pra onde rumar decidimos ir pra Coyoacán, bairro que abriga os museus que foram as casas de Frida Kahlo e Leon Trotsky.
.....Pegamos o metrô estação Insurgentes; o metrô cobre uma extensa parte da grande capital e recebe um imenso fluxo de pessoas, não tão sentido, porém, neste final de ano, com as férias e feriados. Os nomes das estações remetem a aspectos históricos do México, como Cauthemóc, Niños heroes e Balderas; os vagões e as estações não primam pela limpeza.

.....Ali pudemos ter um pouco mais de contato antropológico direto com o grosso da população; os traços são em sua maioria absoluta indígenas, em algum grau similares ao que eu já havia observado na Bolívia e no Peru. A maioria das pessoas têm uma constituição baixa e forte, atarracada. Notamos diversos vendedores ambulantes, de CDs de música local, lanternas, doces etc. A certa altura vimos também uma performance de salteado dentro do vagão onde estávamos, de um rapaz com uma pequena plataforma quadrada de madeira, que ficava na piso do vagão, na mochila um pequeno sound system e caixa de som. Foi muito tocante ver a performance e coragem do rapaz, que após a dança ganhou muitos pesos.

..... A cena me chamou a atenção pela relação do característico machismo latino com a elevada aceitação a gays e lésbicas, em especial na chamada zona rosa, dos bairros mais badalados da capital.

.....Em Coyoacán andamos um pouco e logo chegamos à casa onde Frida Kahlo viveu seus últimos anos de vida, em companhia de Diego Rivera.
A Lígia estava em estado de êxtase; o museu estava bem cheio, turistas europeus e orientais. Na casa, espaçosa e com jardins, pintada toda de azul e vermelho, hava alguns trabalhos da Frida (poucos), esboços, correspondências com Diego e personalidades como Einstein e Trotsky, objetos do casal, de forte inclinação socialista.

Em seguida rumamos para o museu da antiga casa de Trotsky. Foi então minha vez de cair numa espécie de torpor, relembrando a história incrível deste velho revolucionário, na acepção mais puramente bolchevique do termo.



(Continua em 29. 09. 2009)

2 comentários:

william galdino disse...

Muito boa a iniciativa Isaac de postar o diário de viagem do México,há algum tempo li o outro diário, da viagem a europa e fiquei empolgado com as tuas observações e descrições daquelas vivências.
Tenho gostado deste misto pessoal-antropológico, viagens são pra isso,pra essa troca, diálogo entre o de fora e o de dentro,relação de um individuo com um determinado lugar e pessoas.
Fiquei por aqui imaginando esse contato com as moradas do Trotsky e da Frida.
Muito boas são também as imagens que você escolheu pra ilustrar os escritos.
abração e até.

Vinicius disse...

Assino sobre o comentário do ville, no que diz respeito aos pontos de convergência entre a vivência que levamos "dentro" e os links que essa vivência cria com outros indivíduos e culturas. Por motivos claros, esse contato é elevado quando viajamos.
Também tive a oportunidade de ler esse outro diário, de 2002/2003, e, pessoalmente, tenho um interesse agudo nessas observações. Graças a esses anos em que tive inúmeras oportunidades de discutir contigo questões que nos foram de interesse, essas observações, assim como os poemas, acabam preenchendo algumas lacunas, derivadas de tantas trocas de ideias.
Agora, uma pergunta: esse diário me parece estar sofrendo revisões. Um tom meio "palestra", digamos. Que não me agradou muito. Pode ser que isso aconteça por comparação, inevitável, com o outro. Nesse caso, obviamente o contexto é total outro. Pode ser também que eu esteja viajando. Pode ser...

Grande abraço, samana. Aguardo os próximos capítulos.

PS. Curiosamente,na verificação de palavras abaixo, os caracteres são: BEAT. ; )