20.7.10

Adágio

Vê, aqueles sapatos.

Uma montanha deles, não mágica, mas olímpica.

Quase todos eles, por ir e voltar, nem sempre, meus passos.

Quase todos muito mais que sapatos

– menos, agora rotos – foram pontes e portões para tanto rojão

Para tanta risada e cadeados

Para tanto cárcere quanto pode caber nos meus pés.


Vê, que piada engraçada,

Amontoados parecendo pequenos animaizinhos esgotados .

Emaciados passam o tempo repetindo as mesmas coisas

Uns para os outros.

E nem sabem mais o que disso tudo aconteceu ou foi inventado.

A diferença já não cabe.


Que trágico.

São sapatos

Parecem pessoas.


_vinicius perenha – 20 de julho de 2010.

2 comentários:

william galdino disse...

O poema segue na trilha de tua última postagem aqui no blog no que diz respeito a uma sugestão dada pela observação de algo, um olhar que se deita sobre uma imagem e toma outros rumos.

As solas se gastam com tantos caminhos percorridos e essas solas gastas são nossas histórias contadas e reinventadas.

"a diferença já não cabe"

É meu camarada já são muitos os pares a conversar e muitos outros ainda a serem calçados e a eles juntam-se as mochilas, diversas, que ajudaram a carregar muita coisa por essas caminhadas de passos incontáveis.

grande poema.

Isaac Frederico disse...

Grande poema, uma narração muito ilustrativa com um conteúdo de teor muito humano e bem explorado. E quando digo "humano" segue compreendido, no âmbito do poema, o trágico e beleza inerentes a essa condição.
Muito boa leitura !