9.2.09

"Romeu e Julieta"


Devoro ambos
num só espaço
cheio de estacas encobertas.
Confio-lhes meus ácidos.

Devoro-os nus, um sobre o outro.
Mastigo ambos - tenho afiadas facas de osso.
E a lua paira em meu esgoto,
desce a laringe - o amor perdeu seus óculos.
Atinjo em cheio o bolo do estômago.
Cegos se cobram delicadamente no baço,
o abraço
sem todo o pavor que aparentam.

Confiei-lhes a língua,
aquela que embalou meus golpes.
Confio-lhes então o soro da saliva, num pequeno mar revolto!

Engulo a lua desajeitada,
e os dois se afogam no esôfago.

Romeu branco, tal urubu raquítico e novo,
recolhe Julieta, beijada e despedaçada
em seus sanqüíneos trajes abjetos.

Ambos já estarão em meu reto! - sinto-os unidos novamente,
e nascerão para fora, já os exorto finalmente.

(num gole d´água desconfio ter apagado o sabor do gosto)

O amor é amargo diz meu rim direito,
diz que é doce o velho palato.

Mas Romeu e Julieta estão vivos!
E boiam no latrinal ninho intacto.

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