5.1.07

A véspera

Entre o último gole do café frio e o banho antes de dormir, o telefone tocou três vezes.
Engano. Engano. Engano.
Nem lembrava porque tinha telefone.
Sem família. Sem amigos. Sem credores.
Na cama, deitado. Olhar triste sem cúmplice.
Desejou que sua vida inteira passasse naquela noite. Seria encontrado morto de velhice na véspera de ano novo.
Sem despedidas. Sem choro. Sem lembranças.
Mas nem isso Deus faria por ele. Teria que criar coragem para dar um fim àquela espera.
Esperou a vida. Esperou o amor. Esperou a compaixão.
A morte, ele mesmo foi buscar.
Rio, janeiro de 2007.

3 comentários:

william galdino disse...

Em meio a tanta brancura de reveillon, eis que surge Renata com suas boas vindas à 2007 em vermelho sangue, gilete na garganta... rápida,curta e certeira.

Anônimo disse...

adorei o "a véspera"... os textos da Renata sempre foram prosa-poesia, mas este é poesia-prosa hehehe.
fundamental o elemento da tríade neste escrito:
"engano engano engano"
"Sem família. Sem amigos. Sem credores."
"Sem despedidas. Sem choro. Sem lembranças."
"Esperou a vida. Esperou o amor. Esperou a compaixão."

renata disse...

De fato, um pouco mais de poesia dessa vez. Devo estar aprendendo (ou tentando) alguma coisa diferente.
beijos