14.4.08

"Últimas palavras"

Os meus?
Maus poetas!
Não andam por aí cobrindo falhas.

os amantes da escura escuna, de esqueletos,
vossos esqueletos, mortos - afundemos no verão.

os que não vieram,
não tiveram amigos ao redor farfalhando asneiras,
senão fantasmas de amigos que não existiram,
e a caveira de Cristo, senhor de todos nós -
mesmo que não queiram.

que não vieram, como Cristo,
mas amaram e morreram mastigando um ódio sujo de luz.

que não ousaram estradas turvas
pra dizer que foram turvos;
mas turvaram cada estrada marcada por seus passos
e desapareceram com a chuva.

que não deixaram de marchar pra morte
uma vez se quer, em toda vida.

e não escreveram poemas fáceis,
mas sonharam ser poemas fáceis.
e escreveram livros de porta de escola
desvendando os risíveis "poetas"
que facilmente se confundiam com poetas,
mas estes, jamais serão medíocres.
(não falo de pessoas que escrevem)

que não rimaram para não se assemelharem aos bons,
e rimaram pras urnas onde depositaram seus dedos,
com toda a maldade que Deus lhes oferecia.
e foram rimas inteiras, no sexo, nas traves do paraíso,
nas marcas da peste, nas antigas urticárias do espírito...
mesmo sentindo a maquinaria verbal enorme
e em segundos explodia, mil palavras iluminadas,
já rimava então, mais que vivia.

que falaram de Deus como uma força mágica
e tocaram Deus nas colheitas e nos invernos escuros -
e ninguém admitia, mas contaram histórias pequenas,
contra os pedaços de cabeças sitiadas.

foram deuses em cada inferno que inventaram
mas sempre com olhares venenosamente livres.
e jamais penderam da genialidade,
e da crença na genialidade.

e cogitaram duelar com qualquer um
com espadas de feno, olhos de tinta vermelha,
que chamaram todos para ver na lua seus escritos
e ninguém enxergava,
ninguém mais alto que eles.

que nebularam próximos,
tão próximos que morreram por longas distâncias.
e jamais saíram de casa;
e cuidaram dos irmãos, da mãe, das paredes...

Não ousaram brincar do que chamavam poema,
mesmo a pena mórbida que levaram até que o céu,
deitou sobre seus devotos ídolos.
que pisaram cabeças, que beberam cabeças sitiadas - novamente.

Os índios do oriente!
As crianças assombrosas!
nenhum deles fez com que o amor rejuvenescesse
mas optaram por navios de verdade, sem oceano algum.

que sob cascos e rascunhos de sóis, engendraram o cio real.
que foram os melhores amantes, com olhares de partida
que nunca ousaram suspender seus dedos temerosos contra a musa
dela, todo o ar que lhe faltaram, quando deixaram os primeiros
nacos de terra sobre os seus olhos.

Enfeitaram, queimaram e morreram, tão felizes...
agora, onde as flores gritam seus nomes esquecidos, escrevem poemas coloridos
acreditando e fazendo com que as cores sejam louvadas.
Qual de vocês pintaria uma flor?

Um comentário:

Isaac Frederico disse...

estas "últimas palavras" são a epígrafe que muito doideira quer ter, mas só um royal louco pode ir lá e fabricar ele mesmo.
o compasso sydbarretiano passa na prova da verborragia fácil e toca em muitos pontos. já rimam mais que vivem